Homilia na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus 2021
“Ó inefável beleza do Deus altíssimo e puríssimo esplendor da luz eterna,
vida que vivifica toda a vida,
luz que ilumina toda luz e conserva em perpétuo esplendor a multidão dos astros,
que desde a primeira aurora resplandecem diante do trono da vossa divindade.
Ó eterno e inacessível,
brilhante e suave manancial daquela fonte oculta aos olhos de todos os mortais!
Sois profundidade infinita, altura sem limites,
amplidão sem medidas, pureza sem mancha!”
(São Boaventura, Séc. XIII).
Irmãos e Irmãs!
Ao iniciar esta homilia, fazemos nossas, as palavras do profeta Oseias (11, 4. 8): “meu coração comove-se no intimo e arde de compaixão, com a certeza de que o Senhor nos atrai com laços de humanidade e com laços de amor, levando-nos ao colo, assim como leva uma criança...”.
Apresentamo-nos hoje diante do coração de Jesus com o coração agradecido e revestidos dos seus sentimentos, alegres por participar do seu pastoreio e em tudo dando graças. É o sentido de estarmos reunidos nesta Eucaristia, que é ação de graças, pedindo que este imenso dom molde nosso coração de presbítero, para que dele (do nosso coração) o povo possa chegar ao coração de Jesus e haurir as graças necessárias à sua santificação.
Com humildade pedimos um coração misericordioso, descendo aos abismos da fragilidade humana e do pecado, para revelar o coração misericordioso do Pai que levanta das quedas cada um dos seus filhos e filhas e os chama à alegria do perdão. O nome de Deus que Jesus revela é “misericórdia” e, ministros da misericórdia e da reconciliação é o que nos identifica com ele. E como temos necessidade de sacerdotes de trato misericordioso, acolhedores, dispostos a escutar e acompanhar os irmãos, de modo especial no sacramento da reconciliação. Ninguém concebe um presbítero que não seja misericordioso, que não use de misericórdia e reconciliação consigo mesmo, com os irmãos de presbitério, com o povo.
Ao contemplar o coração de Jesus, imploremos a graça de um coração compassivo, especialmente ao se confrontar com a dor e o sofrimento provocados pela doença, pela marginalização e por toda forma de pobreza material e espiritual.
Nosso coração exprima sempre proximidade, inspire confiança e esperança. Fitando nosso olhar no coração de Jesus, peçamos perdão porque às vezes somos insensíveis, duros demais com as fraquezas do próximo, arrogantes encontrando sempre justificação para o injustificável.
Nosso coração seja vigilante, capaz de discernir a presença do Senhor, que nos torna atentos a sua Palavra, operosos na caridade de modo que não se esgote o azeite na lâmpada da nossa vida e, como as virgens prudentes, possamos ir ao seu encontro cada dia. Sendo vigilantes e perseverantes na oração, venceremos as tentações do demônio. Não nos cansemos da esperança. Procuremos, recostados ao coração de Jesus, superar as amarguras e toda a aridez que nos levam ao fechamento, ao isolamento e à incúria.
Cuidemos e não negligenciemos nossas fragilidades. Como disse o Papa Francisco há poucos dias, elas são um lugar teológico, propicio para um encontro intimo, verdadeiro, sem máscaras com o Senhor que nos ama e nos resgata para si.
Presbíteros de coração generoso como o de Jesus, consagremos nossa vida ao povo. A ele somos chamados a servir por uma frutuosa caridade pastoral, o que será possível se tivermos vida interior, oração pessoal e comunitária, amigos do acompanhamento espiritual. Aí estará nossa força e dinamismo que manterão sempre vivo o desejo de nos doarmos sempre mais, sem medo, mas alegres e dispostos. Uma certeza nos mova sempre: em nosso DNA sacerdotal, a exigência de doar-se sem reservas.
Com o hino da Solenidade do Coração de Jesus, na primeira vésperas cantamos: “Ninguém se afaste do amor do vosso bom coração. Buscai, nações, nesta fonte as graças da remissão. Aberto foi pela lança e, na paixão transpassado, deixou jorrar agua e sangue lavando nosso pecado. Glória a Jesus, que derrama a graça do seu coração, um com o Pai e o Espirito, nos tempos sem sucessão.
† Sérgio
Bispo Diocesano