Homilia “Em Maria, Deus olhou-nos com misericórdia” - 15 de julho de 2017

Homilia “Em Maria, Deus olhou-nos com misericórdia” - 15 de julho de 2017

POSTADO EM 18 de Julho de 2017

Diocese de Jaboticabal

Novena Solene – Nossa Senhora do Carmo

15 de julho de 2017

Homilia

Em Maria, Deus olhou-nos com misericórdia

Chamados e enviados como missionários da paz

Mq 5, 1-4a Jo 2, 1-11

Irmãos e Irmãs!

Com a celebração eucarística desta noite, encerramos a novena da gloriosa padroeira, Nossa Senhora do Carmo. Amanhã é sua festa, a nossa festa, festa de nossa querida Diocese de Jaboticabal. Os textos propostos para a liturgia de hoje, apresentam a proximidade de Deus com o seu povo e o seu agir misericordioso, possibilitando experimentar sempre a alegria e a paz. “Alegre-se o coração dos que buscam a Deus” (Sl 105), “Ele te dará a paz com todos os seus bens” (Sl 122).

O profeta Miqueias nos lembra que a salvação e a paz não vêm por meio dos grandes e poderosos, dos palácios ou da capital, fazendo menção a Jerusalém, mas vêm por meio dos pequenos, dos lugares sem importância e, para usar uma linguagem de hoje, das camadas populares. “Mas tu, Belém de Éfrata, tão pequena entre as cidades de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que há de ser chefe de Israel” (Mq 5, 1).

O profeta se refere a um descendente da casa de Davi que reerguerá e sustentará o povo. Sua autoridade repousará no Senhor. Em tempos difíceis, Deus não abandona o seu povo. A corrupção no poder e nas lideranças, assim como toda forma de idolatria, ontem como hoje, não podem se sustentar. Com os pequenos, sofredores e excluídos Deus sempre conta, para criar um mundo novo, uma sociedade de acordo com o seu projeto libertador. A própria mulher mencionada no texto, e que dá à luz, pode ser compreendida como o início de uma nova sociedade, onde ninguém seja excluído, referindo-se ao retorno dos exilados, com o novo tempo para todo o povo de Deus – tempo de vida e salvação.

O texto evoca ainda a memória de Davi (v.3), rei pastor, a serviço do bem e da segurança do povo. É assim que ele recuperará o ideal da realeza em Israel, defendendo os interesses do povo, mediante o exercício da justiça aos pobres e oprimidos.

O Evangelho das bodas de Caná que acabamos de ouvir sinaliza o início do ministério de Jesus. Elas apresentam Jesus como esposo de uma nova humanidade a ser recriada por ele, com uma nova aliança. A festa de casamento, com a sua presença, a de seus discípulos e a de sua mãe, com a mudança da água em vinho, aponta para a sua hora que, por sua vez, remete à cruz, hora de sua morte e ressurreição.

Toda a simbologia presente neste Evangelho nos ajuda a entender as ações de Jesus. 1º) Na Bíblia, o casamento é sempre símbolo da aliança: ser infiel à aliança é o mesmo que se prostituir. 2º) Quando a mãe de Jesus, vendo o apuro dos noivos, lhe diz que eles não têm mais vinho, mais do que a falta de uma bebida, é preciso compreender que a Antiga Aliança caducou. 3º) As talhas para os ritos de purificação as quais estão vazias o comprovam e tais ritos não são mais condição para que as comunidades se tornem esposa do Cordeiro. 4º) A Nova Aliança é o próprio Jesus, simbolizado no vinho novo, em abundância e de ótima qualidade. Se formos ao Cântico dos Cânticos na Sagrada Escritura, veremos toda a simbologia do vinho, sobretudo em relação ao amor. 5º) O vinho antigo não conta mais. 6º) O vinho em abundância (mais de 600 litros) aponta para a chegada dos tempos messiânicos: tempos de alegria, profusão de bens e de paz.

É interessante notar que no episódio de Caná não aparece a noiva. Mas como entender um casamento sem a noiva? A mulher que aparece no texto é a mãe de Jesus, também uma figura simbólica, que aponta para todos os que se conservaram fiéis a Deus na expectativa da realização das promessas messiânicas.

Assim, vamos compreendendo Jesus como verdadeiro Esposo de toda a humanidade, inaugurando novas relações que dão verdadeiro sentido à vida das pessoas, deixando para trás os ritos de purificação que não podiam criar relações de alegria, liberdade e redenção.

Jesus não põe uma aliança sobre a outra. É o que nos demonstra o vinho novo que não provém das talhas de pedra para os rituais antigos de purificação, mas dele mesmo, da sua graça, da sua vontade, superando assim a lei. A partir das bodas de Caná, Deus e a humanidade são chamados a viver relações de pura gratuidade – trata-se de uma nova criação.

Como já dissemos, a abundância do vinho novo remete para os gestos concretos de Jesus, levados às últimas consequências. É em Caná que ele manifesta a sua glória, revela o seu projeto de vida e liberdade para todos, o qual culminará na cruz com a sua hora.

E, assim, vamos compreendendo a sua presença misteriosa, transparente, amorosa, que encanta e atrai. Ele sempre vem ao nosso socorro, tornando-se sensível e solidário, atento às nossas aflições e situações difíceis, como meditamos há pouco.

Deixemo-nos mover, neste tempo santo da graça de Deus, a uma maior e mais profunda participação no mistério de Cristo.

Com o Papa Francisco, terminamos, reportando-nos mais uma vez à Aparecida, que desperta em nós a urgência da missão que nasce precisamente da fascinação divina da maravilha do encontro providenciado por ele e nos leva ao encontro dos irmãos e irmãs, onde quer que eles estejam. Como o mistério de Aparecida aproximou pessoas e famílias para a oração, a comunhão e a solidariedade, na simplicidade da Igreja na casa, nossa vida cristã reapresente beleza de tão grande mistério. É indispensável que o façamos.

+ Sérgio

Bispo Diocesano

Bragança Paulista

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