Entrevista concedida por Dom Sérgio, Bispo de Bragança Paulista, ao jornalista Ricardo Zanon

Entrevista concedida por Dom Sérgio, Bispo de Bragança Paulista, ao jornalista Ricardo Zanon

POSTADO EM 15 de Junho de 2016


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Entrevista concedida por Dom Sérgio, Bispo de Bragança Paulista, ao jornalista Ricardo Zanon, por ocasião da criação do livro em comemoração de 120 anos da Sociedade São Vicente de Paulo, em Jundiaí, onde está o Conselho Metropolitano da referida Instituição e que abrange as cidades de nossa Diocese: Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã.


  1. Quem são os pobres para a Igreja? Qual a importância deles em nossas vidas?


Os pobres na Igreja, muito mais do que os carentes e os necessitados de toda sorte, são aqueles que depositam a sua confiança no amor misericordioso de Deus. Os que resistem diante da injustiça e de toda a forma de mal como o preconceito e a discriminação. Como em toda revelação, eles são sujeitos amados e preferidos de Deus; aqueles que com liberdade, alegria e generosidade se dispõem a participar do Projeto de Deus – o Reino, que ontem hoje e sempre se traduz na edificação de uma nova sociedade, com direitos, deveres, igualdade e dignidade. São os que são capazes de entrar na dinâmica da misericórdia de Deus e, portanto, perceber o sentido da vida na  justiça, solidariedade e partilha. É com eles que Jesus começa a formar um novo povo, uma nova comunidade, onde não haja excluídos e a comunhão fraterna oriente as relações. É o caminho a ser percorrido.


   2.Qual foi o primeiro contato com os vicentinos da região, sabendo que Francisco Morato, Mairiporã e Franco da Rocha é uma região bastante carente?


Em todas as comunidades, mesmo as mais carentes, o serviço de acolhida aos pobres está presente, através dos vicentinos, dispensários, ou outros modos conforme as exigências. São eles, os pobres, que nos lembram que o amor a Deus passa por eles. “Tudo o que fizerdes a um dos menores dos meus irmãos é a mim que o fizestes”. Uma comunidade que se apresenta como cristã não pode ficar indiferente diante do apelo dos pobres que apontam para uma sociedade injusta e que ainda os descarta. A pobreza nas regiões mencionadas é real e estrutural. Aqueles que tem o dever de organizar a sociedade baseada nos princípios do bem comum ainda não  se sensibilizaram o suficiente, estão demasiadamente preocupados com seus interesses e, portanto, não foram capazes de fazê-lo. A carência não é só material, mas social e espiritual. As lideranças comunitárias, movidas pelos princípios evangélicos, com certeza fazem o que podem.

 

   3.Qual a importância da caridade nos dias atuais e qual a importância dos vicentinos ao transmitir esses valores?


A caridade permanecerá para sempre, pois, ela é o amor de Deus que perpassa  todas as coisas, todas as realidades. O trabalho dos vicentinos  e de tantas outras organizações solidárias com os pobres é louvável e atualiza os gestos de Jesus que nunca ficou indiferente diante dos mesmos que, embora sub-julgados de todos os modos, interpelam para a urgência de uma sociedade onde seja banida a exclusão. O compromisso é da Igreja e de toda sociedade e não apenas de uma instituição por melhor que seja.


   4.O que representa os vicentinos para a região e até para o mundo já que há centenas de milhares de envolvidos em diversos países?


O trabalho dos vicentinos está para além de posições “altruístas”, pois o que fazem remete ao próprio Jesus: ir ao encontro dos que sofrem e manifestar-lhes compaixão e misericórdia.  Numa Igreja pobre e para os pobres como pede o Papa Francisco, eles estão na frente. Em nossa terra  ou em terras distantes, o serviço que realizam seja sempre o de inclusão na sociedade e na comunidade, mais do que  o suprir as necessidades materiais.

   

    5.O que sobre os 50 anos de Conselho Metropolitano de Jundiaí e da SSVP como uma instituição que completará 120 anos de trabalho aos pobres?


Parabenizo o Conselho Metropolitano de Jundiaí e a Sociedade São Vicente de Paulo pelo trabalho incansável de todos esses anos junto aos pobres e excluídos. Entre as possibilidades e os limites, o bem sempre prevaleceu e haverá de prevalecer. Sensibilizar pessoas e comunidades para integrar esse trabalho, é o desafio que permanece. Numa sociedade onde as pessoas estão demasiadamente voltadas para suas preocupações o testemunho do serviço e da solidariedade fará a diferença.


     6.Tem alguma palavra de fé para a SSVP para os próximos anos?

 São João Paulo II, na carta Apostólica Novo Millennio Ineunte – sobre o início do novo milênio, fez um grande apelo a toda Igreja: “DUC IN ALTUM” – “partir sempre de novo sustentados pela esperança que não decepciona” (Rm 5, 5). Motivados pela grandeza desse apelo, essa valiosa instituição caminhe sempre lembrada de que “ninguém tem amor maior do que aquele que da à vida por seus amigos” (Jo 15,13), alargando sempre mais os horizontes para acolher a todos, em qualquer lugar, sem discriminação de raça, credo, cultura...


Dom Sérgio Aparecido Colombo

Bispo Diocesano de Bragança Paulista



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