Comunidade de comunidades

Comunidade de comunidades

POSTADO EM 28 de AGOSTO de 2015

Pe. Nei de Oliveira Preto

CNBB. Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. A conversão pastoral da Paróquia (documento 100). Paulinas: SP 2014

Capítulo 1. SINAIS DOS TEMPOS E CONVERSÃO PASTORAL

O Concílio Vaticano II propõe o diálogo da Igreja com a sociedade. Num mundo em rápidas e profundas mudanças a Igreja é chamada a sempre atualizar sua forma de evangelizar, para isso a necessidade da conversão pastoral Assim a Igreja é chamada a reconhecer e discernir “os acontecimentos, nas exigências e nas aspirações dos nossos tempos (...), quais sejam os sinais verdadeiros da presença ou dos desígnios de Deus” (GS, n.11). O Concílio destacou a pastoral e a ação evangelizadora da Igreja para que seja sinal de Cristo no mundo

  • 1.1.Novos contextos: desafios e oportunidade

A emergência da subjetividade, a preocupação com a ecologia, o crescimento do voluntariado, o empenho pela tolerância e o respeito pelo diferente despertam atualmente uma nova consciência de pertença ao planeta e de integração entre tudo e todos. Igualmente, multiplicam-se as mobilizações contra ditaduras, injustiças e violação dos direitos humanos. Por outro lado, a valorização do sujeito enfraquece os vínculos comunitários e transforma a noção de tempo e espaço. A pessoa vive numa sociedade consumista, acentua-se o egoísmo, nota-se uma cultura individualista, imediatista, tecnológica, midiática.

  • 1.2. Novos cenários da fé e da religião

A vivência da fé na sociedade atual é geralmente exercida numa religiosidade não institucional e sem comunidade, mas ligada aos interesses pessoais: a busca de curas e prosperidade, o aumento dos que se declaram sem religião, as diferentes formas de pensar e viver (pluralismo), a religião midiática.

  • 1.3. A realidade da paróquia

Encontram-se paróquias que não assumiram a renovação proposta pelo Concílio Vaticano II e se limitam a realizar suas atividades principais no atendimento sacramental e nas devoções. Falta-lhes um plano pastoral sintonizado com um plano diocesano..., por outro lado, muitas comunidades e paróquias do país vivem experiências de profunda conversão pastoral. São comunidades ocupadas com a evangelização, com a catequese de iniciação cristã, animação bíblica da pastoral, liturgia viva e participativa, juventude, ministérios, conselhos, vínculos comunitários.

  • 1.4. A nova territorialidade

A territorialidade é considerada, há séculos, o principal critério para concretizar a experiência eclesial. Essa concepção esta ligada a uma realidade mais fixa e estável. Hoje, o território físico não é mais importante que as relações sociais.

  • 1.5. Revisão de estruturas obsoletas

“A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’ e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a que Jesus oferece a sua amizade” (Evangelii Gaudium n.17) . Há excesso de burocracia e falta de acolhida, a excesso de atividades mal vividas.

1.6. A urgência da conversão pastoral

Isso supõe mudança de estruturas e métodos eclesiais, mas, principalmente, exige uma nova atitude dos pastores, dos agentes de pastoral e fieis. A expressão “conversão pastoral” remete, acima de tudo, a uma renovada conversão a Jesus Cristo, a qual consiste no arrependimento dos pecados, no perdão e na acolhida do dom de Deus (cf. At 2, 38 ss). Já a conversão da comunidade está refletida no Concílio Vaticano II ao afirmar que “a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e conversão” (Lumen Gentium, n. 8). Essa postura é necessária, porque “a Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma” (Unitatis Redintegratio, n. 6)

  • 1.7. Conversão para a missão

A conversão pastoral supõe passar de uma pastoral ocupada apenas com as atividades internas da Igreja, a uma pastoral que dialogue com o mundo. Preocupar-se menos com detalhes secundários da vida paroquial e focar-se mais no que realmente propõe o Evangelho.

1.8. Breve Conclusão

A paróquia está desafiada a se renovar diante das aceleradas mudanças deste tempo. Desviar-se dessa tarefa é uma atitude impensável para o discípulo missionário de Jesus Cristo. Isso implica ter coragem de enxergar os limites das práticas atuais em vista de uma ousadia missionária capaz de atender novos contextos que desafiam a evangelização. A renovação da paróquia tem fonte perene no encontro com Jesus Cristo, renovado constantemente pelo anúncio do querigma.


Capítulo 2. PALAVRA DE DEUS, VIDA E MISSÃO NAS COMUNIDADES

Para que a paróquia conheça uma conversão pastoral, é preciso que se volte às fontes bíblicas, revisitando o contexto e as circunstâncias nas quais o Senhor estabeleceu a Igreja.

2.1. A comunidade de Israel

No antigo Israel, a comunidade era firmada pela Aliança com Deus, determinando a vida familiar, comunitária e social. Na observância da Lei e na escuta dos profetas, encontrava-se o fundamento da adoração a Deus e da promoção da justiça com todos.

2.2. Jesus: o novo modo de ser pastor

Jesus se apresenta como o Bom Pastor (cf. Jo 10,11). Com bondade e ternura acolhia o povo, sobretudo os pobres (cf. Mc 6,34; Mt 11, 28-29). Seu agir revelava um novo jeito de cuidar das pessoas. Ele ia ao encontro delas, estabelecendo com elas uma relação direta e acolhedora. Recebia como irmão e irmã aqueles que o sistema religioso e a sociedade desprezavam e excluíam: prostitutas e pecadores (cf. Mt 21, 31-32); pagãos e samaritanos (cf. Lc 7, 2-10); leprosos e possessos (cf. Mt 8, 2-4); mulheres, crianças e doentes (cf. Mc 1,32); publicanos e soldados (cf. Lc 18, 9-14); e muitos pobres (cf. Mt 5,3).

2.3. A comunidade de Jesus na perspectiva do Reino de Deus

Jesus tinha certeza da presença do Espírito de Deus em sua vida e a consciência clara de ser chamado para anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação aos presos, recuperar a visão aos cegos, libertar os oprimidos e anunciar um ano da graça da parte do Senhor ( Cf. Lc 4, 18-19). Ele valorizou as famílias (entrar na casa significa entrar na vida da família).

A comunidade dos apóstolos e discípulos foi aprendendo com Jesus um novo jeito de viver: na comunhão com Jesus, na igualdade de dignidade, na partilha dos bens, na amizade, no serviço, no perdão, na oração comum, na alegria. Jesus também apresentou quatro recomendações aos discípulos: hospitalidade, partilha, comunhão de mesa, acolhida aos excluídos.

2.4. As primeiras comunidades cristãs

Partindo de Jerusalém, os apóstolos criaram comunidades nas quais a essência de cada cristão se define como filiação divina. Essa se dá no Espírito Santo pela relação entre fé e batismo. Convocada por Deus a comunidade primitiva era a reunião dos fieis que sentiram o mesmo chamado.

Toda comunidade cristã se inspirava em quatro elementos: “eles eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). “Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que eram salvas” (At 2,47). A missão e a esperança também são elementos fundantes da vida das primeiras comunidades cristãos.

2.5. A Igreja-comunidade

As comunidades do cristianismo palestinense eram profundamente itinerantes. A proposta de Paulo, nas cidades ao redor do mar mediterrâneo (Jerusalém, Antioquia, Roma, Corinto, Éfeso), era de formar comunidades mais sedentárias, nas casas, nas famílias, daí o conceito de Igreja Doméstica.

A Igreja do Novo Testamento será denominada como ekklesia tou theou, assembleia convocada por Deus, indicando comunidade reunida para celebrar a liturgia.. Ekklesia, no grego, significa reunião pública.

2.6. Breve Conclusão

Na visão bíblica o ser humano não é concebido como indivíduo isolado e autônomo. Ele é membro de uma comunidade, faz parte do povo da Aliança, encontra sua identidade pessoal como membro do Povo de Deus. A mesma noção perpassa o Novo Testamento, com elementos novos. Utiliza-se a ideia de Corpo de Cristo, da qual cada pessoa é membro. Os primeiros cristãos formam o novo Povo de Deus (1Pd 2,10).


Capítulo 3. SURGIMENTO DA PARÓQUIA E SUA EVOLUÇÃO

 A dimensão comunitária da fé cristã conheceu diferentes formas de se concretizar historicamente, desde a Igreja Doméstica até chegar à paróquia na acepção atual. A paróquia é um instrumento importante para a construção da identidade cristã; é o lugar onde o cristianismo se torna visível em nossa cultura e história.

3.1. As comunidades na Igreja antiga

As comunidades cristãs primitivas transmitiram a Palavra de Jesus que pode ser reconhecida em todos os tempos. O cristianismo dos três primeiro séculos vivia de forma clandestina no Império Romano. Nesse período delinearam-se melhor os carismas e ministérios, sobretudo a função dos bispos, presbíteros e diáconos. Nesta época aprofundou-se a ideia de fraternidade cristã, como responsabilidade entre as comunidades cristãs e o cuidado aos necessitados, além disso, vivia-se a fé cristã num mundo distante dos valores cristãos, estar no mundo sem se identificar com ele.

3.2. A origem das paróquias

Em 313, edito de Milão, declarou a liberdade religiosa. Em 381, edito de Tessalônica, do Imperador Teodósio, declarou o cristianismo religião oficial, aos poucos o cristianismo tornou-se a religião da maioria do império.

No século III criaram-se locais fixos chamados domus ecclesiae, para as diversas reuniões da comunidade, sob a direção de um presbítero. No século IV, esses locais fixos de culto eram chamados, em roma de titulus. Chamavam-se paróquias as comunidades rurais afastadas da cidade onde moravam o bispo e seu presbitério. No século V, o sistema paroquial adquire maior autonomia, e aos poucos vai se impondo também nas cidades, transformando em paróquias territoriais. A paróquia, com o tempo, passaria a ser essencialmente a Igreja instalada na cidade.

A paróquia medieval tornou-se a grandeza teológica na qual se desenvolvia a vida inteira das pessoas. Pois, influenciava a educação e a economia também. Nesse período surgem as ordens religiosas e mosteiros atraindo pessoas que buscavam uma espiritualidade que a paróquia não proporcionava. No início do segundo milênio ocorreu a Reforma Gregoriana, porém, aos poucos a Igreja desenvolveu-se mais como instituição jurídica do que sacramental. O Concílio de Trento, no século XVI, não modificou o perfil estrutural da paróquia. Insistiu que o pároco residisse na paróquia e instituiu o seminário para formar o clero, esse modelo chegou até o Concílio Vaticano II.

3.3 A formação das paróquias no Brasil

No século XVI, o catolicismo chegou ao Brasil e foi marcado pelas ordens religiosas e as irmandades de fieis. Nas principais cidades, havia várias Igrejas de diferentes ordens religiosas que insistiam nas devoções populares. Em 1855 medidas adotadas pelo Império fechou os noviciados brasileiros. Resistiu e ainda resiste no Brasil o catolicismo de tradições populares com suas festas e devoções. Neste contexto as paróquias permaneceram como única instância institucional do catolicismo no país.

Com a proclamação da República em 1889, chegaram as congregações religiosas europeias no Brasil, elas enfatizavam a escola católica e auxiliavam nas paróquias. Neste período cresceu o catolicismo leigo no Brasil, de muita reza e pouca missa. O clero permaneceu na paróquia numa perspectiva mais moral e dogmática da fé, Assim, compreende-se hoje o leigo não praticante que tem a paróquia como lugar de recepção dos sacramentos e atos religiosos.

3.4. A paróquia no Concílio Ecumênico Vaticano II

O Concílio Vaticano II não tem um documento especifico sobre a paróquia, contudo, apresenta uma chave de leitura muito importante: A Igreja Particular. A Paróquia é uma “célula da diocese”. Ela esta em rede, isto é, em comunhão com as demais paróquias que formam a diocese. Ela é “comunidade local dos fieis”, “Igreja visível estabelecida em todo o mundo”. Diocese é a porção do Povo de Deus.

O Concílio reflete sobre a Igreja Particular partindo da Eucaristia. Assim, a Igreja, que prolonga a missão de Jesus, há de ser compreendida primeiramente como comunhão, com raiz última no mistério da Trindade, alargando-se na missão, por natureza.

3.5. A renovação paroquial na América Latina e no Caribe

As cinco Conferências Episcopais Latino-americanas foram determinantes para a identidade da Igreja, desde de Medellin, até Aparecida, que fez o apelo à conversão pastoral, que sugere abandonar as estruturas obsoletas de mera conservação para assumir a dimensão missionária da renovação paroquial, como autênticos discípulos missionários.

De acordo com o Documento de Aparecida, as paróquias “são células vivas da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fieis tem uma experiência concreta de Cristo e de comunhão eclesial. São chamadas a ser casa e escola de comunhão” Os bispos sugerem que as paróquias se transformem “cada vez mais em comunidade de comunidades”

3.6. A renovação paroquial no Brasil

A Igreja no Brasil ocupa-se do tema da renovação paroquial desde 1962, com o Plano de Emergência, depois, o Plano de Pastoral Conjunto, as Campanhas da Fraternidade, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, sempre buscaram a renovação paroquial.

3.6. Breve Conclusão

As paróquias nascem da necessidade de expandir o atendimento aos cristãos que vivem especialmente em áreas distantes do bispo. Aos presbíteros confiar-se-á essa missão.


Capítulo 4. COMUNIDADE PAROQUIAL

A comunidade-Igreja encontra seu fundamento e origem no Mistério Trinitário. O Espírito Santo “leva a Igreja ao conhecimento da verdade total (cf. Jo 16,13), unifica-a na comunhão e no ministério, dota-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos com as quais a dirige e embeleza” (LG, n.4), para que ela não se torne uma realidade sociológica ou psicológica. Essa unidade dos seguidores de Jesus Cristo é a comunhão da Igreja que “encontra a sua expressão mais imediata e visível na Paróquia: esta é a última localização da Igreja (ChL, n.26). A paróquia traz em si o prolongamento da Igreja Particular e da Eucaristia episcopal que se desdobra numa realidade eclesial maior.

4.1. Trindade: fonte e meta da comunidade

A Igreja foi desejada e projetada pelo Pai, é criatura do Filho e constantemente vivificada pela ação do Espírito Santo. A dimensão comunitária é fundamental na Igreja, pois, se inspira na própria Santíssima Trindade, a perfeita comunidade de amor. Na Igreja, a diversidade de dons e carismas propõe a unidade do povo de Deus na variedade de dioceses, paróquias e comunidades, que exprimem sua comunhão.

4.2. Diocese e paróquia

A diocese é a porção do povo de Deus confiada a um bispo com a cooperação de um presbitério (cf. CDC, Cân, n.369). Ao se criar uma nova paróquia não se produz uma repartição dentro da Igreja, mas cria-se uma nova presença da Igreja.  O bispo de Roma preside na caridade todas as dioceses. A Igreja é mistério de comunhão, inclusive no mistério da comunhão dos santos. A vitalidade da paróquia depende da vitalidade da diocese.

4.3. Definição de paróquia

Na Bíblia grega, aparecem três palavras ligadas à noção de paróquia: o substantivo paroikía, significando “estrangeiro, migrante”; o verbo paroikein, designando “viver junto a, habitar nas proximidades, viver em casa alheia, ou em peregrinação; e a palavra paroikós, usada tanto como substantivo como adjetivo. O substantivo paroikía pode ser traduzido por “morada, habitação em pátria estrangeira”. O adjetivo paroikós equivale a “vizinho, próximo, que habita junto”.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que a “Paróquia é uma determinada comunidade de fieis, constituída de maneira estável na Igreja Particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco, como o seu pastor próprio, sob a autoridade do bispo diocesano” (CIgC, n. 2179). E, ainda “a paróquia é o lugar onde todos os fieis podem ser congregados pela celebração dominical da Eucaristia. A paróquia inicia o povo cristão na expressão ordinária da vida litúrgica, reúne-o nesta celebração, ensina a doutrina salvífica de Cristo, pratica a caridade do Senhor nas obras boas e fraternas” (CIgC, n. 2179).

4.4. Comunidade de fieis

A paróquia é uma comunidade de fieis que torna presente a Igreja numa realidade histórica. Na teologia, significa a união íntima ou a comunhão de pessoas entre si e delas com Deus Trindade. Essa comunhão se realiza fundamentalmente pelo Batismo e pela Eucaristia. A paróquia é a comunidade local onde se ouve a convocação feita por Deus, em Cristo, para que viva a fraternidade, independente de vínculos de território, de moradia e de pertença geográfica.

4.5. Território paroquial

Para o Código de Direito Canônico, a paróquia, via de regra é territorial, isto é, compreende todos os fieis de um determinado território, mas esclarece que onde “for conveniente, constituam-se paróquias pessoais, em razão de rito, língua, nacionalidade dos fieis de um território, e também por outra razão determinada” (CDC, Cân. n. 518).

4.6. Comunidade: casa dos cristãos

A comunidade cristã é a experiência de Igreja que acontece ao redor da casa (domus ecclesiae): “paróquia: esta é a última localização da Igreja: é em certo sentido, a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas” (ChL, n. 26).

A ideia de comunidade como casa fornece o conceito de lar, ambiente de vida, referência e aconchego de todos que transitam pelas estradas da vida. No Novo Testamento, a palavra casa muitas vezes significa a comunidade-igreja, construída por pedras vivas (cf. 1 Pd 2,5). A comunidade cristã é a Casa da Palavra, Casa Pão e Casa da Caridade.

4.7. Comunidades para a missão

Para ser missionária a paróquia precisa ir ao encontro das pessoas: “A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1Jo 4,10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva” (EG, n. 24).

4.8. Breve Conclusão

A descentralização da paróquia e a consequente valorização das pequenas comunidades deveria ser a grande missão da Igreja que busca desenvolver a cultura da proximidade e do encontro. Afinal, “o que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos é, justamente, a missionariedade” (Papa Francisco, Mensagens e homiliar – JMJ, Rio 2103, p. 90).


Capítulo 5. SUJEITOS E TAREFAS DA CONVERSÃO PAROQUIAL

O Concílio Vaticano II evidenciou a relação e a distinção entre sacerdócio comum dos fieis, proveniente do batismo – fonte e raiz de todos os ministérios – e sacerdócio ministerial, proveniente da Ordem, expressando como ambos participam do único sacerdócio de Cristo (cf LG, n.10). A renovação paroquial depende de um renovado amor à pastoral, que se exerce como expressão do sacerdócio recebido pelo Batismo e pela Ordem.

5.1. Os bispos

O Papa Francisco estimula os bispos a serem pastores próximos às pessoas, usando a paciência e a misericórdia, a serem pessoas simples e acolhedoras, para que vigiem o rebanho que lhes foi confiado e busquem manter a unidade. Devem cuidar da esperança para que haja sol e luz nos corações (cf. Papa Francisco, Mensagens e homiliar – JMJ, Rio 2103, p. 96-97).

5.2. Os presbíteros

A conversão pastoral da paróquia depende muito da postura do presbítero na comunidade. Isso exige uma profunda consciência de que o padre não é um mero delegado ou um representante, mas um dom para a comunidade à qual serve, como pastor e guia, sendo presença visível de Cristo.

5.3. Os diáconos permanentes

O Documento de Aparecida sugere que os diáconos permanentes acompanhem “a formação de novas comunidades eclesiais, especialmente nas fronteiras geográficas e culturais, aonde ordinariamente não chega a ação evangelizadora da Igreja” (DAp, n. 205). Também a eles pode ser confiada uma comunidade não territorial, como o atendimento a dependentes químicos, a universidades ou a hospitais, por exemplo.

5.4. Os consagrados

Reconhece-se o importante papel dos consagrados e consagradas que desenvolvem seu apostolado nas paróquias, comprometidos diretamente com a ação pastoral, de acordo com seus carismas e em plena comunhão com a Igreja Particular.

5.5. Os leigos

A missão dos leigos deriva do Batismo e da Confirmação: “A sua ação dentro das comunidades eclesiais é tão necessária que, sem ela, o próprio apostolado dos pastores não pode conseguir, na maior parte das vezes, todo seu efeito” (AA, n.10).

É preciso fomentar a sua participação nas comunidades eclesiais, nos grupos bíblicos, nos conselhos pastorais e de administração paroquial. É urgente desencadear um processo integral de formação, que seja programática, sistemática e não meramente ocasional. Dentre os sujeitos da conversão pastoral, que merecem destaque as famílias, as mulheres, os jovens, e os idosos.

5.6 Comunidades Eclesiais de Base

As CEBs são um instrumento que permite ao povo “chegar a um maior conhecimento da Palavra de Deus, ao compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé dos adultos” (DAp, n. 178)

5.7. Movimentos e associações de fieis

Os movimentos e associações de fieis (e novas comunidades de vida) são sinais da Providência de Deus para a Igreja de hoje. A Igreja do Brasil conhece uma multiplicidade de novas experiências que enriquecem a eclesialidade.

5.8. Comunidades ambientais e transterritorais

São formados por moradores de rua, universitários, empresários ou artistas, por exemplo. Os hospitais também constituem uma verdadeira comunidade de serviço a vida, as escolas também podem ser comunidades dentro das paróquias

5.9.Breve conclusão

O desafio da renovação paroquial está em estimular a organização das diversas pessoas e comunidades, para que promovam uma intensa vida de discípulos missionários de Jesus Cristo. Isso se realiza pelo vínculo e pela partilha da caminhada, mas também pelo planejamento pastoral.


Capítulo 6. PROPOSIÇÕES PASTORAIS

6.1. Comunidades da comunidade paroquial

A grande comunidade, praticamente impossibilitada de manter os vínculos humanos e sociais entre todos, pode ser setorizada em grupos menores. A paróquia descentraliza seu atendimento e favorece o aumento de líderes e ministros leigos e vai ao encontro dos afastados. Não se deixa a referência territorial das comunidades maiores, mas criam-se novas comunidades sem tanta estrutura administrativa.

Essa é uma postura missionária da Igreja. Onde não for possível setorizar territorialmente, siga-se o critério de adesão por afeto ou interesse, estabelecendo grupos de oração e reflexão em condomínios e edifícios. Será necessário levar em conta toda a dinâmica da cultura urbana, e fundamentar a pequena comunidade na Palavra de Deus e na Eucaristia, em comunhão numa rede de comunidade, estando atentos às necessidades da comunidade, e ao espírito de abertura às pessoas.

6.2. Acolhida e vida fraterna

A comunidade paroquial não desconhece a possibilidade de tensões e dissensões e, por isso, pede e concede perdão. A comunidade missionária, portanto, é comunidade acolhedora: escutar o outro, acolher bem os que procuram a comunidade são caminhos do Evangelho.

6.3. Iniciação à vida cristã

Para que as comunidades sejam renovadas, devem ser a casa da Iniciação à vida cristã, onde a catequese há de ser uma prioridade, adotando a metodologia ou processo catecumenal, conforme a orientação do Ritual da Iniciação Cristã de Adultos e o Diretório Nacional da Catequese. A catequese “tem de ser impregnada e embebida de pensamento, espírito e atitudes bíblicas e evangélicas, mediante um contato assíduo com os próprios textos sagrados” (VD, n.74).

6.4. Leitura Orante da Palavra

Sendo Casa da Palavra, a paróquia há de promover uma nova evangelização. Muitos paroquianos ainda não se familiarizaram com a Bíblia. A Palavra de Deus deve tornar-se a contínua animação da vida e da pastoral de todos os membros da comunidade, lendo a bíblia sem reducionismos intimistas, fundamentalismos e ideologias, deve-se fazer boas homilias e cuidar bem das Celebrações da Palavra.

6.5. Liturgia e espiritualidade

Após o Concílio Vaticano II, nas celebrações litúrgicas buscou-se maior participação da assembleia. Entretanto, algumas experiências têm mostrado que, às vezes, fala-se demais e reza-se pouco. Corre-se o risco de algumas celebrações serem realizadas sem a espiritualidade devida.

6.6 Caridade

As comunidades da paróquia precisarão acolher a todos, em especial os moralmente perdidos e os socialmente excluídos, “para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). “O amor ao próximo, radicado no amor de Deus é um dever de toda comunidade eclesial” (DCE, n. 20).

6.7. Conselhos, organização paroquial e manutenção

A comunidade de comunidades é a casa dos discípulos missionários. Para o seu bom funcionamento, é preciso comunhão e participação que exigem engajamento, tanto na provisão de recursos quanto na administração paroquial.

6.8. Abertura ecumênica e diálogo

Abertura ecumênica e diálogo garantem o respeito e o acolhimento mútuo. Estímulo à realização da “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos” também é importante.

6.9. Nova formação

A conversão da paróquia exige um novo estilo de formação. Não basta ocupar-se de conteúdos e temas; é preciso encontrar metodologias e processos que permitam desencadear uma conversão nas pessoas e uma mudança na comunidade.

6.10. Ministérios leigos

Os ministérios leigos também refletem a dignidade de todos os batizados e a responsabilidade de todos os cristãos na comunidade

6.11. Cuidado vocacional

“O dever de fomentar vocações pertence a toda a comunidade de fieis, que, sobretudo as deve promover mediante uma vida plenamente cristã. Para isso concorrem não só as famílias que, animadas pelo espírito de fé, de caridade e piedade, são como que o primeiro seminário, mas também as paróquias, de cuja vida fecunda participam os adolescentes” (OT, n.2).

6.12. Comunicação na pastoral

Diante das novas possibilidades de comunicação e dos novos tipos de relacionamento que a mídia possibilita a comunidade também interage de forma diferenciada com seus fieis. O ser humano atual é informado e conectado, acessa dados e vive entre espaços virtuais. A ausência da paróquia nesses meios é inconcebível.

6.13 Sair em missão

Há muitos católicos não evangelizados que não fizeram a experiência pessoal com Jesus Cristo, têm fraca identidade cristã e pouca pertença eclesial (cf. DAp. n. 226).

6.14. Breve conclusão

Para que a paróquia se converta em comunidade de comunidades, será preciso manter essas características fundamentais relacionadas acima.

Conclusão

Após a apresentação deste texto é conveniente refletir sobre as seguintes questões:

  • Quais os pontos deste texto que provocam a reflexão sobre a nossa comunidade paroquial?
  • Que atividades pastorais e estruturais precisam ser revisadas?
  • Em que aspectos já estamos vivendo a conversão pastoral?
  • Como a nossa paróquia pode tornar-se comunidade de comunidades?
  • O que precisamos assumir para sermos uma paróquia missionária?

Pe. Nei de Oliveira Preto

Itatiba, 10 de julho de 2015

© Copyright 2024. Desenvolvido por Cúria Online do Brasil