Domingo de Ramos

Domingo de Ramos

POSTADO EM 18 de Março de 2016


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Neste próximo domingo entramos na Semana Santa que era chamada pelos mais velhos de “Semana Maior”. Certamente pela compreensão de que nela é celebrado o Mistério fundamental da fé cristã: a Ressurreição de Jesus Cristo. É interessante notar que o início dessa semana é uma recordação da entrada triunfal de Jesus na cidade de Jerusalém. Os evangelistas descrevem o fato. As pessoas entusiasmadas vão arrancando galhos de árvores, como escrevem Mateus (21,8) e Marcos (11,8). Lucas (18, 28ss.) não fala em ramos. João (12, 12-16) fala em ramos de palmeira. Esta diferença é provavelmente originada no fato que o evangelho de João é o mais tardio. Escrito por volta do ano 90. Em plena perseguição do Império Romano aos cristãos. O ramo de palmeira é sinal de vitória dos que são martirizados.  Além dos ramos o povo vai estendendo mantos. Um tapete formado de vestes. Junto a galhos, folhagens e flores, como adereços, a serem sinal da alegria. Na verdade há, na celebração de Ramos, uma exigência vinculante. Quem aclama Jesus Cristo - e o faz de maneira tão exposta - deve ter consciência da responsabilidade do ato externo. A aclamação deve ser um sinal da fidelidade vivida até as últimas consequências. Na doação da própria vida por Aquele que deu a sua vida. É a consciência que na Sua morte a nossa morte é superada. No Seu sofrimento é vencido o nosso. Nas Suas dores as nossas encontram refrigério. Domingo de Ramos é uma festa bonita que não esconde as dores da Paixão. Na celebração litúrgica são lidos os textos que falam da entrada em Jerusalém e dos momentos do martírio do Senhor. Penso que a pedagogia da celebração quer nos recordar a profundidade da manifestação pública da fé. E deseja prevenir o risco de uma aclamação transformar-se em cooperação de condenação. Porque isso pode, infelizmente, acontecer. O fato vivido no domingo de ramos deve ser um alerta para todos nós. Não é difícil aclamar o Cristo quando se trata de arrumar uns ramos, umas flores. E até um tapete. O difícil é continuar manifestando amor por ele quando se deve assumir posicionamento igual ao Dele! Se entendermos as celebrações da Semana Santa como um “fazer memória” da entrega de Jesus Cristo para que tenhamos vida (João 10,10), a conclusão lógica é que quem segue Jesus Cristo deve ter a mesma disponibilidade de doar vida para que a Vida aconteça. Olhando a nossa realidade vemos as múltiplas situações de morte que a envolvem. A violência que se alastra. As limitações da ordem econômica que não privilegia as pessoas e sim o lucro. As questões morais e éticas atropeladas pela ganância, abusos de poder e exacerbação do autoritarismo. No fundo a questão é buscar em Jesus Cristo as linhas mestras do comportamento. Para que nossas atitudes sejam cristãs, isto é, reflitam em nosso tempo e em nossos dias aquilo que Jesus Cristo faria e diria nos nossos dias. Sabemos que o discipulado de Jesus não é limitado a cerimônias religiosas e às paredes dos nossos templos. Somos chamados a viver a “verdadeira religião”, como diz o apóstolo Tiago (ressoando os profetas) em sua carta (1,27): cuidar de quem sofre e está marginalizado. E não se trata de benemerência ou filantropia. Trata-se de conversão pessoal e estrutural. Para que o amor a Deus se reflita no amor ao irmão, como recorda João em sua primeira carta. Neste ano a Campanha da Fraternidade nos convidou a tomar consciência sobre a questão do saneamento básico e tudo o que se correlaciona com a preservação e qualidade da nossa vida e da vida da Natureza. É um desafio que exige dos cidadãos – mormente os marcados pela fé – uma atitude que favoreça a mudança do modo de pensar e agir. Não por interesses de grupos. Sim pela defesa de princípios que devem levar em conta o bem. Da natureza e das pessoas. A Semana Santa possa ser aos que afirmam sua fé em Cristo Ressuscitado, um renovar de compromisso e um sinal mais luminoso de Esperança.

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