Domingo de Ramos: Iniício da Semana Santa
Por. Monsenhor Giovanni Barrese
No Domingo de Ramos entramos na Semana Santa, chamada pelos maisvelhos de “Semana Maior”. Certamente pela compreensão de que nela é celebrado o Mistério fundamental da fé cristã: a Ressurreição de Jesus Cristo.
É interessante notar que o início dessa semana é uma recordação da entrada triunfal de Jesus na cidade de Jerusalém. Os evangelistas descrevem o fato.As pessoas entusiasmadas vão arrancando galhos de árvores, como escrevem Mateus (21,8) e Marcos (11,8). Lucas (18, 28ss.) nãofala em ramos. João (12, 12-16) fala em ramos de palmeira.Esta diferença é provavelmente originadano fato queo evangelho de João é o mais tardio. Escrito por volta do ano90. Em plena perseguição do Império Romano aos cristãos.
O ramo de palmeira é sinal de vitóriados que são martirizados. Além dos ramos o povovai estendendo mantos. Um tapete formado de vestes. Junto agalhos, folhagense flores, como adereços, a serem sinal da alegria. Na verdade há, na celebraçãode Ramos, uma exigênciavinculante. Quem aclama Jesus Cristo - e o faz de maneiratão exposta- deve ter consciênciada responsabilidade do ato externo. A aclamação deve ser um sinal da fidelidade vividaaté as últimas consequências. Na doação da própriavida porAquele quedeu a sua vida.É a consciência quena Sua mortea nossa morteé superada. No Seu sofrimento é vencidoo nosso. Nas Suasdores as nossas encontram refrigério.
Domingode Ramos é uma festa bonita quenão esconde as doresda Paixão. Na celebração litúrgica sãolidos os textos que falam da entrada emJerusalém e dos momentos do martírio do Senhor. Penso que a pedagogia da celebraçãoquer nosrecordar a profundidadeda manifestação públicada fé. E desejaprevenir o riscode uma aclamação transformar-se em cooperaçãode condenação.
Porqueisso pode, infelizmente,acontecer. O fatovivido no domingode ramos deve serum alertapara todos nós. Nãoé difícil aclamaro Cristo quandose trata de arrumaruns ramos, umas flores. E até umtapete. O difícil é continuar manifestando amor por ele quando se deve assumir posicionamento igualao Dele! Se entendermos as celebraçõesda Semana Santacomo um“fazer memória”da entrega de Jesus Cristopara quetenhamos vida (João 10,10), a conclusão lógicaé que quemsegue Jesus Cristo deve tera mesma disponibilidadede doar vida para que a Vida aconteça.
Olhando a nossarealidade vemos as múltiplas situaçõesde morte quea envolvem. A violência que se alastra. As limitaçõesda ordem econômicaque nãoprivilegia as pessoas e sim o lucro. As questões moraise éticas atropeladas pela ganância, abusos de poder e exacerbação do autoritarismo.No fundo a questãoé buscar em Jesus Cristoas linhas mestras do comportamento. Para que nossas atitudessejam cristãs, isto é, reflitam em nosso tempo e em nossos dias aquilo queJesus Cristo faria e diria nos nossos dias. Sabemos queo discipulado de Jesus não é limitado a cerimônias religiosas e às paredes dos nossos templos.
Somos chamados a viver a “verdadeira religião”, como diz o apóstolo Tiago (ressoando os profetas) em sua carta(1,27): cuidar de quem sofre e está marginalizado. E não se trata de benemerência ou filantropia. Trata-se de conversão pessoal e estrutural. Para que o amor a Deus se reflita no amor ao irmão, como recorda João em suaprimeira carta.
Neste ano a Campanhada Fraternidade nosconvidou a tomar consciência sobre a preservação dos biomas de nosso país e tudo o que se correlaciona com a preservação equalidade da nossa vida e da vida da Natureza . É um desafio que exige dos cidadãos– mormente os marcados pela fé – uma atitude que favoreça a mudança do modode pensar e agir . Não por interessesde grupos. Sim pela defesa de princípios que devem levar em conta o bem. Da natureza e das pessoas.
A Semana Santa possa ser, aos queafirmam sua féem Cristo Ressuscitado, um renovar de compromissoe um sinalmais luminosode Esperança.