PAPA FRANCISCO - Carta Apostólica Patris Corde

PAPA FRANCISCO - Carta Apostólica Patris Corde

POSTADO EM 03 de Março de 2021

PAPA FRANCISCO
Carta Apostólica Patris Corde


Brasília: Edições CNBB 2020


INTRODUÇÃO

Com coração de pai: assim José amou a Jesus. Designado nos quatro Evangelhos como “o filho de José”(Lc 4,22; Jo 6,42; cf. Mt 13,55; Mc 6,3). José, humilde carpinteiro (Mt 13,55), esposo de Maria (Mt 1,18;Lc 1,27); um homem “justo” (Mt 1,19). Sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada em sua lei (Lc 2, 22.27.39), e por meio de quatro sonhos (Mt 1,20; 2,13.19.22).Neste tempo de pandemia as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns, que não aparecem nas manchetes de jornais, médicos, enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, cuidadores, pais, mães, professores, que, como São José, passam despercebidas, mas são decisivas neste momento da história, com paciência e corresponsabilidade, infundem esperança e não semeiam o pânico.


1. UM AMADO PAI - São Paulo VI faz notar que a paternidade de São José se exprimiu concretamente, “em ter feito de sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em utilizar da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua vocação humana ao amor doméstico ... a serviço do Messias nascido em sua casa” (Homilia de Paulo VI, 19 de março de 1966). Por isso, São José é um pai que sempre foi amado pelo povo cristão, como prova numerosas igrejas dedicadas a ele por tudo o mundo.


2. PAI NA TERNURA - Dia após dia, José via Jesus crescer “em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens” (Lc2,52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar, segurando-o pela mão: era para Ele como o pai que ergue uma criança ao rosto, inclinava-se para ele a fim de alimentá-lo (Os 11, 3-4). Jesus via a ternura de Deus em José: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim se compadece o Senhor dos que o temem” (Sl 103[102], 13).


3. PAI NA OBEDIÊNCIA - De maneira semelhante à obra de Deus em Maria, manifestando-lhe seu plano de salvação, também revelou a José os seus desígnios por meio dos sonhos. Em sonho o anjo anuncia que Maria irá conceber por obra do Espírito Santo (cf. Mt 1, 20-21). A sua resposta foi imediata: “ao despertar do sono, José fez o que o anjo do Senhor lhe havia ordenado” (Mt 1,24). Com obediência, superou seu drama e salvou Maria. Assim também se deu na fuga para o Egito e na sua volta. Em todas as circunstâncias de sua vida, José soube pronunciar o seu “fiat”, assim como Maria na anunciação e Jesus no Getsêmani. Diante desses fatos, é possível dizer que José coopera no mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação.


4. PAI NO ACOLHIMENTO - A nobreza do coração de José o faz subordinar à caridade aquilo que aprenderá com a lei. José apresenta-se como homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. A vida espiritual de São José, não é um caminho a ser explicado, mas um caminho a ser acolhido. José não é um homem resignado passivamente. Ele é forte e corajoso, o acolhimento é um dom da fortaleza que vem do Espírito santo para nós. Só o Senhor pode nos dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as contradições, imprevistos e desilusões.É necessário deixar de lado a ira e a desilusão para dar lugar àquilo que não escolhemos. A realidade é portadora de um sentido da existência com suas luzes e sombras: “tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). E Santo Agostinho acrescenta: tudo, “incluindo aquilo que é chamado de mal”.


5. PAI NA CORAGEM CRIATIVA - A primeira etapa da cura interior é acolher a própria história. Outra característica da cura interior é a coragem criativa, que aparece quando se encontram dificuldades. Às vezes, as dificuldades fazem aparecer em nós recursos que nem pensávamos ter. Deus intervém em nossas vidas por meio de acontecimentos e pessoas: José é um homem por meio de quem Deus cuida dos primórdios da história da redenção; é um verdadeiro “milagre”, pelo qual Deus salva o menino e sua mãe. O céu intervém, confiando na coragem criativa de José, dentre outros fatos, tendo eles chegados a Belém e não encontrando alojamento, José arranja um estábulo e prepara-o de modo a tornar-se um lugar mais acolhedor possível para o Filho de Deus que vem ao mundo (Lc 2, 6-7). Durante o tempo que permaneceram no Egito, a situação não deve ter sido diferente, dificuldades semelhantes a todas as famílias de migrantes. O Filho do Todo-Poderoso vem ao mundo, assumindo uma condição de grande fragilidade. Precisa de José para ser defendido, protegido, cuidado e criado. São José não pode deixar de ser o guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história, e ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, reflete a maternidade de Maria. Assim, todos os necessitados, pobres e doentes são “o Menino”, que José continua a guardar. Por isso, São José é invocado como protetor dos miseráveis, necessitados, exilados, aflitos. E por essa mesma razão que a Igreja não pode deixar de amar os últimos.


6. PAI TRABALHADOR - São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento de sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão com o próprio fruto do trabalho. O trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas também para a família, uma família onde falta o trabalho, fica exposta a dificuldades. A pessoa que trabalha colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. A perda do trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido apandemia da COVID-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades. Peçamos a São José Operário que encontremos vias por meio das quais possamos colocar em prática o seguinte: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!


7. PAI NA SOMBRA - Há um livro em forma de romance com a imagem sugestiva da sombra, e apresenta a figura de São José, que é para Jesus, a sombra do Pai celeste: guarda-o, protege-o, segue os seus passos jamais seafastando dele. Não se nasce pai, torna-se pai... E não se torna pai apenas porque colocou um filho no mundo, mas porque cuida responsavelmente dele. Ser pai não significa segurar, prender ou subjugar o filho, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir. A lógica do amor é sempre lógica de liberdade, e José soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca colocou a si mesmo no centro, Maria e Jesus estavam no centro de sua vida.


“Salve, guardião do Redentor e esposo da Virgem Maria! A vós, Deus confiou seu Filho; em vós, Maria depositou a sua confiança; convosco Cristo tornou-se homem. Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós e guiai-nos no caminho da vida. Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem, e defendei-nos de todo mal. Amém”.


Pe. Nei de Oliveira Preto
1º de março de 2021

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