Todos irmãos: as religiões ao serviço da fraternidade no mundo

Todos irmãos: as religiões ao serviço da fraternidade no mundo

POSTADO EM 11 de Novembro de 2020



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        Recentemente o Papa Francisco lançou sua nova carta encíclica “Fratelli tutti sobre a fraternidade e a amizade social”. “Fratelli tutti” é uma alusão ao programa de vida de São Francisco de Assis que à luz do Evangelho compreendia que deveria tratar a todos como irmãos. Mais que propor uma reflexão sobre a doutrina do amor fraterno, pretende refletir sobre a possibilidade de renascer entre nós a fraternidade mundial. Em oito capítulos reflete o Papa Francisco sobre o tema da fraternidade e da amizade social. Iremos dar destaque ao capítulo VIII onde menciona diretamente o serviço das religiões à fraternidade no mundo.

        O fundamento da fraternidade entre as religiões compreende-se a partir do reconhecimento da pessoa humana como criatura chamada a ser filho ou filha de Deus. O diálogo entre pessoas de diferentes religiões não se faz por diplomacia, amabilidade ou tolerância. O objetivo do diálogo é estabelecer amizade, paz, harmonia e partilhar valores e experiências morais e espirituais num espírito de verdade e amor. (Cf. 271).

        A razão por si só, é capaz de ver a igualdade entre os homens e entre eles estabelece uma convivência cívica, mas não consegue fundar a fraternidade. Sem uma abertura ao Pai de todos, não podem haver razões sólidas e estáveis para o apelo à fraternidade. A raiz do totalitarismo moderno negou a dimensão transcendente da dignidade humana enquanto imagem visível de Deus invisível. Toda pessoa humana é imagem viva de Deus, por isso, pela sua própria natureza, sujeito de direitos que ninguém pode violar, seja indivíduo, grupo, classe, nação ou Estado. (cf. 273).

        Quando se expulsa Deus da sociedade, acaba-se adorando ídolos, e bem depressa o próprio homem se sente perdido, a sua dignidade é espezinhada, os seus direitos violados. Deve haver um lugar para a reflexão que provém do fundo religioso que recolhe séculos de experiência e sabedoria. Embora a Igreja respeite a autonomia da política, não pode nem deve ficar à margem da construção de um mundo melhor nem deixar de despertar as forças espirituais que possam fecundar toda a vida social. (Cf. 274-276).

        A Igreja valoriza a ação de Deus nas outras religiões e nada rejeita do que, nessas religiões, existe de verdadeiro e santo. Olha com respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que refletem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens. Outros bebem de outras fontes. Para nós, este manancial de dignidade humana e fraternidade está no Evangelho de Jesus Cristo. Dele brota, para o pensamento cristão e para a ação da Igreja, o primado reservado à relação, ao encontro com o mistério sagrado do outro, à comunhão universal com a humanidade inteira, como vocação de todos. (Cf. 277).

         Entre as religiões, é possível um caminho de paz. O ponto de partida deve ser o olhar de Deus. Porque “Deus não olha com os olhos, Deus olha com o coração. E o amor de Deus é o mesmo para cada pessoa, seja qual for a religião. E se é um ateu, é o mesmo amor. O culto sincero e humilde a Deus leva, não à discriminação, ao ódio e à violência, mas ao respeito pela sacralidade da vida, ao respeito pela dignidade e a liberdade dos outros e a um solícito compromisso em prol do bem estar. (Cf. 281-283).

        No final deste capítulo o Papa termina dizendo que além da motivação provinda de São Francisco de Assis, uma outra pessoa de profunda fé o motivou, o Beato Carlos de Foucauld, pois a partir da sua intensa experiência de Deus, realizou um caminho de transformação até sentir irmão de todos. Estando com os últimos no interior do deserto africano, aflorava os desejos de sentir todo o ser humano como irmão, e pedia a um amigo: Peça a Deus que eu seja realmente o irmão de todos. Ele queria ser “o irmão universal”, mas somente identificando-se com os últimos é que chegou a ser irmão de todos. Que Deus inspire este ideal a cada um de nós. Amém (Cf. 286-287).

        O pastoreio do Papa Francisco feito desta experiência com este Deus Pai de todos perpassa toda a carta encíclica. Que possamos encontrar tempo e dedicar atenção a escutá-lo por meio destas palavras que chamam-nos à consciência religiosa de fraternidade e a amizade social, pois somos todos irmãos.



Pe. José Antonio Boareto

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