“Tu és meu filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,7)

“Tu és meu filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,7)

POSTADO EM 26 de Dezembro de 2024

Natal do Senhor de 2024

Homilia – Missa da Noite

   Catedral Nossa Senhora da Conceição – Bragança Paulista

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Tu és meu filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,7)

 

   Irmãos e Irmãs!

  Estamos reunidos nesta Igreja Catedral, nesta noite santa, para celebrar o nascimento de um menino, um filho, o filho de Deus, o filho que nos foi dado, cujo nome é“Conselheiro admirável, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da paz” (Is 9). Com ele chegam o direito e a justiça, seu reinado será sem fim, e sua presença uma luz a iluminar os caminhos da humanidade. 

 Ele é o próprio filho de Deus, “gerado por Deus”, que desceu até nós, para participar da nossa condição de peregrinos por este mundo e assim conduzir-nos,desde o nosso hoje, para a sua plenitude. Seu trono é a manjedoura.

  Um Deus tão grande, mas capaz de se fazer pequeno, o se importando em se tornar frágil e indefeso, para que podermos acolhe-lo e amá-lo. Um Deus que,na grandeza do seu ser, renuncia a todo esplendor divino para se deixar encontrar na pobreza e na humildade.

  Este é o sentido do Natal – filho gerado por Deus – que se torna um de nós para vivermos com ele, tornando-nos semelhantes a ele. É no presépio que podemos sentir toda a sua proximidade, seu encanto, e a ele nos submeter, dobrando os joelhos, adorando-o.

   Com a carta de São Paulo a Tito, nós o contemplamos ainda como graça de Deus: “manifestou-se a graça” (2, 11). Essa graça é a própria luz de Deus que irrompe no mundo de trevas e sofrimentos, luz que envolve, a partir dos pastores, o mundo todo. Luz mais forte que a escuridão e a ignorância que privam do amor de Deus. Luz que indica o caminho, luz que é amor, luz capaz de pôr fim a todo ódio e maldade. 

   No menino deitado na manjedoura, Deus nos mostra a sua glória, a glória do seu amor, entregue despojadamente a toda humanidade para conduzi-la por um novo caminho, o caminho da vida. É verdade, a luz de Belém nunca mais se apagou. Ao longo dos séculos envolveu homens e mulheres, “cercou-os de luz. A partir de Belém, um rastro de luz, de esperança e de verdade os fez protagonistas de seu amor e de sua bondade, reportando-os ao mistério daquela gruta onde Deus se fez menino.

   Se hoje a violência invade o mundo, Deus se opõe a ela oferecendo o seu Filho – o menino de Belém, convidando a humanidade a segui-lo. Aquele que foi gerado por Deus nos traz ainda a paz. O profeta Isaías o chama de “Príncipe da Paz”, paz que não terá fim. É o que ouvimos no Evangelho de Lucas  pouco anunciado: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (2, 14), homens e mulheres de boa vontade, homens e mulheres que ele ama. Ontem, Maria, José, Isabel, Zacarias, Simeão, Ana, os pastores, os sábios do oriente, chamados magos e, ao longo da história, todos os que nos deixamos conduzir por ele.

   O desafio que permanece é o de estarmos atentos, vigilantes e disponíveis à palavra de Deus, de coração aberte sempre a espera dele. Ninguém pode ficar excluído do mistério do Natal, sempre como convite para estar com ele e viver a vida dele. Pecadores, miseráveis e excluídosnele podem se encontrar. Foi o que aconteceu com os pastores: mal vistos, suspeitos, rejeitados e odiados por levarem os seus rebanhos a pastar em terras alheias.

   Nesta noite, nós vos damos graças, ó Pai Celeste, pelo menino reclinado na manjedoura: nele, manifestaram-se “a bondade de Deus nosso salvador e o seu amor para com os homens e as mulheres” (Tt 3,4).

  Nós vos louvamos eterno Pai, por esse amor que desce até nós, sob a forma de uma criança frágil e entra na história de cada um de nós.

   Ó Pai, com toda nossa vida, nesta noite santa de Natal, nos colocamos na vossa presença e pedimos com humildade e confiança: 

 Olhai com os olhos do menino recém-nascido, homens, mulheres e crianças que visando amelhores condições de vida, perto ou longe de nós, morrem de fome, enquanto somas incalculáveis são aplicadas em armamentos, potencializando-os sempre mais para matar e destruir. 

 Vede a dor indizível dos pais que, em busca de melhor qualidade de vida, expõem a própria vida e a vida dos filhos. 

  Ouvi, ó Pai, o clamor pela pazque se eleva das populações martirizadas pela guerra. Falai ao coração de quantos possam contribuir mediante o diálogo, para soluções equitativas e honrosas das tensões existentes que, como nuvens escuras, se tornam cada vez mais ameaçadoras e se adensam no horizonte da humanidade

 Cuidai de tantas pessoas às quais, numa corrida ansiosa e atribuladase afadigam para conseguir encontrar os meios dignos de sobrevivência, afim deprogredir e se elevar. 

   Amparai os povos que estão sem alegria e segurança, porque veem desrespeitados os próprios direitos fundamentais, tendo, muitas vezes, que enfrentar as trágicas condições de peregrinos pelo mundo, buscando preservar a vida. 

 Abençoai a nossa pátria amada Brasil, tão sofrida, cansada e mergulhada em mentiras, conchavose erros, louvados como virtude por aqueles que nos representam e que deveriam ser modelos na prática da justiça e do bemcomum, nunca negligenciando o apelo dos pobres, doentes, desempregados, jovens, sem teto, sem defesa, sem ninguém que os ouça...

  Sustentai o nosso mundo, com suas esperanças e desilusões, com seus rasgos de verdade e baixezas, com seus ideais nobres e comprometimentos humilhantes. 

    Guiai as pessoas e os povos aabater os muros do egoísmo, da prepotência e do ódio, a fim de se abrirem para o maior respeito entre todos os humanos, capazesde criar a paz universal. 

   Induzi cada um dos homens e mulheres, a conceder a quem precisa, o auxílio necessário, a darem-se pelo bem de todos e a renovarem o próprio coração com a graça do Cristo Redentor que nesta noite se faz nosso irmão. 

    Assisti vossa Igreja, especialmente o Papa Francisco em sua solicitude junto aos pobres aos que sofrem todo tipo de exclusão.

 Conservai e fortalecei em todos os corações, o anseio pela fé em vós e pela bondade para com os irmãos e irmãs, que se exprima na busca de vossa presença e devosso amor, com confiança em vosso poder salvador e vosso perdão e, abandono a vossa providencia.  

    Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, nascido na noite de Belém, da virgem Maria! 

 Jesus Cristo, nossa luz, nosso irmão e redentor, abraçai com o primeiro relance de vossos olhos todos os problemas torturantes do mundo de hoje!

Acolhei na vossa comunhão, mediante vosso nascimento terreno, todos os povos e nações da terra!  

 E acolhei-nos a todos nós, vossos irmãos e irmãs, que precisamos de vosso amor e de vossa misericórdia

     A todos vós que me ouvis nesta noite santa, queridos bragantinos, queridos diocesanos, eu desejo a graça desta revelação, a graça do que ela está a nos dizer: Deus é nosso irmão. 

  Vivamos esta mensagem hoje e sempre.     Amém. Feliz Natal!

 

† Sérgio,

Bispo Diocesano


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