A Sede de Honestidade

A Sede de Honestidade

POSTADO EM 23 de Maio de 2017

Por Monsenhor Giovanni Barrese

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A barafunda em que estão envolvidas pessoas que desempenham cargos públicos assumiu caráter de tsunami. Volta e meia se escuta: “Não sobra um”!  Ou alguém recorda canção popular que diz: “Se gritar- pega ladrão - não sobra um, meu irmão”! E acabo me recordando de uma dito que se escuta desde sempre: “Não existe qualquer obra, em qualquer nível, que não envolva propina, vantagens”!

Também faz parte de certa mentalidade que, para ter celeridade em alguma necessidade, é preciso “engraxar as mãos, molhar asmãos, dar uma gorjeta”, etc. Nestes dias, com denúncias envolvendo o presidenteda República, a coisa engrossou!  Parece, como disse um jornalista, que as cornetas do Apocalipse começaram a tocar!

A pergunta que fica no ar é se os apelos para que se puna quem errou partem de quem sempre se esforçou para viver a retidão. Nós sabemos que uma das tendências que carregamos é exigir dos outros uma perfeição que nem sempre nós conseguimos viver. Além disso existem os subterfúgios legais.

Peço licença para recordar um fato: havia necessidade de reconhecimento de um diploma de curso superior para exercer determinada função. O prazo era de três meses. A pessoa precisava do documento imediatamente. Foi ao departamento competente e teve ainformação de que pagando a taxa de apressamento o documento sairia em três dias. A taxa era legal, com recibo e tudo mais. Pagou e teve o documento!

Lembro aqui, também, o professor Leandro Karnal, da Unicamp, numa conversa sobre o estado de coisas que estamos vivendo. Ele dizia que todos nós podemos enxergar a corrupção no trânsito, nas filas, nas carteiradas, nos mais diversos comportamentos. Citava a utilização de atestados de saúde, pedidos para serem justificativas, que nada tinham a ver com a saúde.

Se a corrupção fosse problema de algum partido era só retirá-lo da circulação. Diz o professor que acorrupção é um mal social. E é por isso que não é fácil erradica-lo. Aqui está, também para mim, a raiz ou o adubo das grandes corrupções e desvios de comportamento: a descrença na honestidade, no amor à verdade, o descaso com o ser humano. Para obter um fim, vale qualquer meio!

A questão dos desvios de comportamento passa por dois caminhos que se entrelaçam: a educação (família,escola, instituições) e ação crítica nas estruturas que formam a sociedade. Sem profunda formação, que faça brilhar o valor da pessoa humana e da abertura às possibilidades de sua realização, reduz-se o horizonte para metas a serem atingidas no quadro do individualismo.

Nada que é comunitário, solidário vai interessar. Valem os objetivos imediatos e alcançáveis com mínimo esforço! A consciência crítica, para apreender as estruturas que ferem a dignidade do BemComum, deve ter prioridade para que não se caia na armadilha do “sempre foi assim; não tem jeito”!

Além de buscar em algum pensamento religioso ou o conformismo ou uma possibilidade de saída com algum rito. Vi, espantado, num canal de TV, determinado pregador afirmar que o mal social não era consequênciada injustiça e sim um espírito! Trocando em miúdo é a afirmação de que o problema se resolve expulsando o demo! Claro que o Mal existe e ele tenta nos influenciar. Todavia, a ação má é nossa!

Lembro um amigo que, volta e meia,quando se fala de tudo o que está acontecendo, recorda aquilo que SantoAgostinho afirmava: o ser humano nasce com a tendência para o mal. Há,certamente em nós, tendência ao egoísmo, a tirar proveito. Mas não é menos verdade que temos capacidade e liberdade para escolher!

Apesar de tudo o que estamos vivendo não devemos desanimar. Se buscarmos com sinceridade e perseverança haveremos de superar os desafios do presente. É importante que usemos bem do nosso direito de escolher nossos representantes. Se estão lá é porque foram escolhidos! Se erramos em coloca-los, porque os julgávamos competentes e honestos, não haverá peso moral em nossasconsciências. Se os colocamos lá porque tivemos ou pensávamos ter vantagens incorretas, estamos pagando o preço!

Tomara que aprendamos!

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