CRISTÃO AZEDO?
Por Monsenhor Giovanni
José Saramago, escritor português que se dizia ateu, afirmava que no dia em que visse cristãos católicos saindo das igrejas com o rosto alegre por terem recebido o Cristo na Eucaristia ele teria um forte argumento para começar a buscar a fé.
Está certo que a sua assertiva caminhava na linha da certeza para crer (um pouco São Tomé!). Saramago desejava uma evidencia tangível para mudar seu modo de enxergar a fé religiosa.
E nós sabemos que “a fé é um modo de já possuir o que se espera, um meio de conhecer as realidades que não se veem” como é ensinado na magistral Carta aos Hebreus no capítulo 11. E que recomendo para uma boa meditação nestes tempos de liquidez!
Saramago me incitou a refletir sobre a falta de alegria e serenidade que atinge muitos crentes. Sua provocação me veio à mente por conta de um trecho da Carta de Paulo aos Filipenses (4,6-9) e das comparações de Isaías (5,1-7) e a que Mateus traz no seu Evangelho (21,33-43). No escrito aos cidadãos filipenses, Paulo exorta a comunidade cristã a ser alegre, sempre alegre e a ocupar-se com “o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor”. Se quiséssemos dissecar cada um desses termos teríamos uma visão imediata que, muitas vezes, fazemos exatamente o contrário: ocupamo-nos com a mentira, com o que é baixeza, com o modo injusto de ser, com que é atitude de violência, etc. E é claro que os frutos só podem ser azedos e amargos.
Na mesma direção vão as palavras do profeta Isaías e de Jesus no Evangelho de Mateus. Os dois textos fazem crítica ao povo de Israel usando a plantação de uva como figura. Em Isaías se apresenta o agricultor que prepara a terra, em melhor lugar, compra cepas das mãos nobres uvas.
Canta o cuidadoso gesto e espera, no tempo da colheita, as excelentes uvas para fazer o vinho. Decepção! Aparecem uvas azedas! A decepção leva à cólera. Esta à destruição da vinha descrita com imagens fortes: derrubar cercas, deixar os animais pisotearem e pastarem, arrasar tudo.
A lição da comparação de Isaías quer lembrar às pessoas do seu tempo que Israel era a vinha amada do Senhor e, apesar do cuidado de seu Deus, esse povo só deu frutos ruins. Consequência: o que não presta se joga fora! Jesus fala da vinha como um lugar onde o dono confia a trabalhadores a expectativa dos frutos. Estes ou foram preguiçosos e não tinham frutos s dar ou, levados pela ganância, tentaram usurpar o que não era seu.
A crítica de Jesus segue a visão de Isaías: longe de corresponder à confiança de quem lhes entregou a plantação os arrendatários matam que veio buscar o resultado da colheita (os profetas e o Filho do Dono da Vinha!). Os doutores da Lei apresentam à pergunta de Jesus sobre o que se esperaria, a mesma solução de Isaías: destruição! Jesus vai em outra direção: a vinha não será destruída, será entregue a outros trabalhadores. Jesus afirma que, uma vez que Israel não foi fiel a seu Deus, o Reino será aberto àqueles que eram considerados “cães”, os pagãos!
Tanto Isaías como Jesus foram perseguidos por conta de suas afirmações. E, certamente, é o que acontece a todo aquele que crê e quer dar frutos e ou cuidar da vinha. Termino estas linhas para, lembrando Paulo, falar de um acontecimento que nos leva a ver o honroso, amável, digno e virtuoso.
Refiro-me ao gesto heroico da professora da creche de Janaúba que morreu porque arriscou sua vida para salvar o maior número de criancinhas que pudesse! Este gesto, trise na circunstância, faz forte a esperança que o Bem ainda está presente! E por pessoas como essa mártir não podemos renunciar a alegria que se traduz como serenidade para enfrentar as dificuldades.
E que a fé deve ficar estampada no rosto de todos os que creem no Senhor. Para que os “saramagos” que existem possam ter a certeza de que os que creem sabem em quem creem e procuram levar isso a sério!