A CULPA É DOS OUTRO!

A CULPA É DOS OUTRO!

POSTADO EM 10 de Outubro de 2017

Por Monsenhor Giovanni

O mês de outubro, para a Igreja Católica é importante para recordar a participação de todo o batizado na Missão de Jesus Cristo.Chamamos outubro de “mês missionário ou das missões”.

Por um tempo era o momento de caracterizar a entrega da vida de muitos homens e mulheres que, deixando pátria, família dedicavam-se à evangelização em terras distantes. Este modo particular, embora digno, de encarar a Missão, foi sendo aprofundado, esclarecido e ampliado pelos ensinamentos do Magistério da Igreja.

Já o exemplo de Santa Terezinha do Menino Jesus tinha sido um forte sinal: sem sair do Carmelo fez de sua vida uma consagração missionária de levar Jesus a ser amado por todos!

Mais perto de nós, o documento do Concílio Vaticano II “Gaudium et Spes” já recordava que a missão de todos os crentes em Cristo é a participação ativa na construção da história de todos os povos. Os cristãos não podem ignorar “as alegrias e tristezas, as angústias e as esperanças” das pessoas.

É preciso a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração dos cristãos com a sociedade, buscando identificar as questões que desafiam a dignidade da pessoa humana, a construção da paz, a superação das discriminações raciais e religiosas, dos preconceitos, da violência. A caminhada dos cristãos deve prosseguir na atualização dos métodos para um anúncio mais aderente da razão de sua missão: o Evangelho de Jesus. Lembra-se a presença da Igreja em diversos campos.

Instiga-se a enfrentar metas desafiadoras: a reforma política, o relacionamento com os meios da comunicação, os avanços das diversas tecnologias e os princípios éticos que as devem nortear, a relação com o aspecto laico do Estado, a superação da cultura do descartável, etc.

O grande desafio que se tem hoje é apontado, em sua atualização, às palavras do profeta Ezequiel na Babilônia (Ez 18,25-28). As limitações, os sofrimentos do presente são atribuídos aos antepassados.

A geração do presente não quer assumir a responsabilidade por sua acomodação lamurienta. E reclama daquilo que pensa ser o modo de agir de Deus a quem continua culpando por um castigo que vê como perene.

Não é difícil em nossos dias continuar atribuindo a outros a culpa de tudo o que acontece de ruim. Até mesmo ao diabo!  E o que o diabo tem a ver com isso? Muito!

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Há uma forte tendência, em determinadas visões religiosas, em atribuir a ação diabólica os nossos males e mazelas. Joga-se para o campo do sobrenatural o que é realizado no campo humano. Para justificar falta de trabalho, desventuras matrimoniais, perda de bens, doenças, invoca-se a presença do tinhoso. Tal como no tempo de Jesus, para ficarmos dentro do contexto bíblico.  

Por que atribuir ao demônio a causa das nossas desventuras? Porque a coisa se resolverá com rito religioso e não com a busca das causas dos males!

É preciso que tenhamos consciência que o diabo tem nome, endereço, RG e CPF! Ou o leitor acha que a operação “Lava Jato” foi tramada no Averno?  “Petrolão”, “Mensalão” e infinita quantidade de outras intervenções capitaneadas pelo Ministério Público e Polícia Federal são “obras” humanas! Sem dúvida inspiradas pelo espírito do mal! Mas as atitudes e sua execução dependeram das vontades dos envolvidos.

Esta afirmação, de nossa responsabilidade, encontra seu apoio no Evangelho de Mateus (21,28-32) onde se coloca o fato de dois filhos que respondem, de forma diferente, aos pedidos do pai. Chamados ao trabalho, um diz que vai e não vai. O outro diz que não vai e vai. Desta parábola se infere que não adianta uma obediência externa que não leva a atitude de fazer o que se deve.

Uma resposta negativa, num primeiro momento, superada pela adesão num momento posterior, realiza o que se devia fazer. Isto serve para chamar a nossa atenção para uma adesão meramente exterior aos projetos de Deus. Sem sua efetivação, de nada servirá. Um posicionamento negativo, que venha a ser mudado, torna real a afirmação de vida, afastada num momento inicial. Nosso caminho é fazer com que nossos atos de culto, nossas convicções de fé, não separem Vida e Crença. Nossa fé deve ser vivida com os pés no chão, no barro do dia a dia.

Para que se perceba que a maldade é fruto daquilo que sai do coração (Marcos 7,14-23). A maldade é fruto da aceitação da inspiração do Mal. Só será superada pela conversão. Um gesto religioso pode ser motivador. Mas por si só não muda nada. É tal como um anestésico que pode aliviar a dor, mas não pode curar doença em andamento. Esta precisa de intervenção que elimine o processo causador do desconforto. A culpa é do diabo? Em parte. A parte maior é nossa!

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