GANÂNCIA E VAIDADE

GANÂNCIA E VAIDADE

POSTADO EM 23 de AGOSTO de 2016

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A Palavra de Deus escolhida para o último domingo deste mês de julho começa com um trecho aparentemente pessimista de Coélet, autor do livro do Eclesiastes. Esse livro surge na comunidade judaica por volta do ano 250 antes de Cristo. Egito, Palestina, Síria, Líbano estão sob dominação dos reis gregos, da dinastia dos Ptolomeus. Internamente a família dos Tobíadas domina a economia. O povo geme sob impostos externos e internos. O fruto do seu trabalho é praticamente perdido nas mãos dos dominadores. Olhando essa realidade o sábio judeu faz a reflexão que começa com as palavras acima e que julgo oportuno completar: “Vaidade das vaidades – diz Coélet – vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?... Detesto todo o trabalho com que me afadigo debaixo do sol, pois se tenho que deixar tudo ao meu sucessor, quem sabe se ele será sábio ou néscio?” (Eclesiastes, 1,2; 2,18). A reflexão antes que pessimista é uma visão crítica da realidade que não garantia ao esforço feito fruir a labuta diária. Como se sabe o Eclesiastes e outros seis livros surgiram na época dos Ptolomeus como forma de resistência ao poder que explorava e queria destruir a fé e a cultura do judaísmo. O texto do Evangelho (Lucas 12,13-21) traz advertência de Jesus sobre o risco de colocar a segurança da vida nos bens, no dinheiro que se possa acumular. A uma pessoa que lhe pedia para intervir numa questão de herança, Jesus parece dar uma resposta desinteressada. Na verdade ele vai à raiz do problema: a ganância é que provoca as quebras dos relacionamentos e leva ao distanciamento entre as pessoas e também com Deus. O apego aos bens leva ao fechamento e a formar uma atitude de dominação que não leva mais em conta nenhum laço de convivência. O livro de Coélet traz o raciocínio que faz parte do nosso dia a dia e que muitas vezes se escuta: “prá que tanta preocupação em acumular se não poderemos levar nada no dia de nosso enterro”? A palavra vaidade tem a sua tradução no texto bíblico informada pela palavra ilusão. E é exatamente a ilusão da onipotência pela posse de bens e do dinheiro que pode levar à perda do rumo da vida verdadeira e a assumir comportamento de fraude, de engano em relação às pessoas. O que estamos presenciando com o fato que recebe o nome de “Petrolão” nada mais é que a vaidade e a ilusão justificando ações que prejudicam o conjunto da sociedade. O desvio de somas fantásticas de dinheiro para obter sonhos pessoais ou de um grupo. Da mesma forma a parábola que Jesus apresenta mostra a fatuidade daquilo que se acumula em relação tanto às pessoas, quanto a Deus. A vida é um dom de Deus. Nós não temos como compra-la. E não será o dinheiro que tenhamos ou nossas posses que  que nos livrarão do fato natural da morte e do encontro definitivo com Deus, diante do qual ficarão patentes as escolhas e atitudes que tomamos durante a vida. O caminho de Jesus mostra que a vida é vivida em seu valor fundamental se for expressão da partilha e do serviço. Isto significa que os bens não tem valor absoluto. O seu valor está na geração da vida plena. E aquilo que se tem não deve torna-se o deus a que se adora. Nós sabemos que a visão consumista dos nossos tempos nos leva a buscar sempre aquilo que se determina o que devemos ter. A força imensa da propaganda vai gerando necessidades que nunca têm sua sede aplacada. A indústria do acúmulo do dinheiro vai levando a todos a buscar o desnecessário para que não sejamos taxados de caretas ou “off line”. E nesse quadro não há espaço nem para a gratuidade nem para a justiça. Daí advém as tentativas do engano, do tirar proveito, da vantagem, das omissões, etc. Os bens e o dinheiro são meios para que se possa viver com dignidade. Adquiridos com trabalho e seriedade devem ajudar a construir o mundo marcado pela justiça e solidariedade.

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