Homilia no Centenário da Diocese de Bragança Paulista
Homilia no Centenário da Diocese de Bragança Paulista
100 anos evangelizando “com Maria, a Mãe de Jesus” (At 1,14)
Bragança Paulista 27 de julho de 2025
Parque Dr. Fernando Costa
Irmãos e irmãs!
No dia de 24 de julho de 2022, nossa Igreja diocesana de Bragança Paulista, iniciava sua caminhada rumo à celebração do centenário de sua criação. Foram três anos de
intenso trabalho, bênçãos e graças, o que a ela permitiu olhar para o futuro com esperança, como reza o Jubileu da Esperança de 2025, proposto pelo saudoso Papa Francisco: “Peregrinos da
Esperança – esperança que não decepciona” (Rm 5,5).
Lembramos que “a Diocese é a porção do povo de Deus que é confiada ao Bispo para ser pastoreada com a cooperação do presbitério, de tal modo que, aderindo ao seu pastor e
por esse congregado no Espírito Santo, mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitua a Igreja particular, onde, verdadeiramente, encontra-se e atua a Igreja de Cristo una, santa, católica e
apostólica” (CDC n. 369).
Na Bula de criação da Diocese: AD SACRAM PETRI SEDEM – da Sagrada Sede de Pedro, no dia 24 de julho de1925, assim se expressou o Papa Pio XI: “Sendo nós, chamado por divina disposição para ocupar a Santa Sé de Pedro, mesmo quando atendendo a piedosas súplicas, queremos, com o pensamento em Nosso Senhor, fazer tudo o que possa contribuir para o contínuo aperfeiçoamento do culto divino e para o bem espiritual dos fiéis em Cristo...”. Com esta missão, era criada a nossa Diocese. O que chama nossa atenção?
O aperfeiçoamento do culto divino e o bem espiritual dos fiéis. Aí já estava presente a nossa vocação, que é a vocação de toda aIgreja, e que permanecerá para sempre: conduzir o povo à santidade, na busca e no conhecimento de Jesus Cristo, para adorá-lo e servi-lo eternamente e, celebrá-lo como mistério inefável de amor e de comunhão.
Peregrinando na história, entre luzes e sombras, no campo ou na cidade, esta com as suas desafiadoras periferias, mas não sem esperança e confiança, alegramo-nos por ter percorrido o caminho.
Aquilo que muitas vezes pensamos não poder realizar, Deus o realizou com nossa participação generosa, ânimo e determinação. Nesse contexto, e tendo à frente fiéis e destemidos pastores, com a presença e o testemunho de leigos e leigas, religiosos e religiosas, foi acontecendo o agir de nossa Igreja diocesana – sua ação evangelizadora.
A Palavra de Deus proposta para hoje, no livro de Ezequiel, nos ajuda a compreender o cuidado de Deus para com o seu povo, povo que longe de sua pátria, sofre o abandono, comparado a ovelhas perdidas, extraviadas, fraturadas e doentes, ao lado de ovelhas gordas, fortes e saudáveis. É a imagem que o profeta Ezequiel tomou para falar do sofrimento do povo exilado, desunido e oprimido. Profeta que anima e encoraja o povo a crer que Deus age como um pastor, que o liberta da ganância dos poderosos, um pastor que cuida, resgata, apascenta, reconduz.
Um Deus que tira o seu povo da escravidão, acompanhando-o na realização da justiça e do direito, ontem como hoje: a base de uma nova sociedade a ser construída.O contexto do Evangelho é o do mar de Tiberíades, numa refeição de Jesus ressuscitado com os discípulos, onde ele pede a todos um amor incondicional, amor que terá Pedro como protagonista, e que prolongará sua ação (ação de Jesus). Ele, pastor e porta. Entrar pela porta que é Jesus, conduzir as ovelhas, cuidar delas, apascentá-las, levando-as a possuir a vida de Jesus.
O que fica claro é que as ovelhas não pertencem a Pedro; com elas ele exercerá bem a sua função se tiver plena consciência de que o pastor é o Ressuscitado: é a fidelidade a ele e à sua obra que tanto Pedro (e todos que exercem na comunidade, ministérios de liderança) quanto as ovelhas
encontrarão a fonte e o sustento para o seu testemunho.
O diálogo entre Pedro e Jesus deixa claro para os presentes (os discípulos) o que é essencial: fazer parte da comunidade dos discípulos missionários seguidores de Jesus.
No livro do Apocalipse somos todos convidados a testemunhar a experiência possível desde já, de uma nova humanidade, com novo céu e uma nova terra, sem dominação, sem violência, mas na liberdade, com a certeza da presença de Deus em seu meio, nunca cedendo diante da mentira, injustiça e a corrupção.
Na alegria desta solene celebração, depositando sobre o altar esses cem anos de peregrinação, alimenta-nos a certeza de que tudo concorreu e concorre para o que acabamos de
ouvir. E, mais que uma Igreja instituição, por vezes enferma pelo fechamento, dada à comodidade e apegada às próprias seguranças, uma Igreja que foi edificando-se como uma Igreja solidária, que se deixou moldar pelo Espírito, aprendendo a ser uma Igreja em saída – autêntica Comunidade Eclesial Missionária, como propôs o saudoso Papa Francisco.
Assim, “entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, avança, peregrina, a Igreja, ‘a nossa Igreja diocesana’, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que ele venha (1 Cor 11,26), robustecida pela força do Senhor Ressuscitado, a fim de vencer, pela paciência e caridade, suas aflições e dificuldades, tanto internas quanto externas, e, embora entre sombras, porém, com fidelidade, revelar ao mundo seu mistério, até que no fim, seja manifestado em plena luz” (Constituição Dogmática Lumen Gentium – sobre a Igreja, Concílio Vaticano
II, nº 251).
Confiamos à nossa gloriosa padroeira, a Imaculada Conceição do Jaguary – proclamada feliz porque acreditou – o nosso itinerário de 100 anos. Que ela a assista e a conserve no caminho sinodal, da comunhão, participação e missão.
Acreditando, caminhemos, caminhando amemos e, amando sirvamos sempre
mais. Amém.
† Sérgio
Bispo Diocesano