Leão XIV, o papa agostiniano que visitou Bragança de ônibus e dormiu no Colégio Santo Agostinho
Frei Rivandro, 38, assinava documentos na secretaria paroquial, no dia 8 de maio, quando foi surpreendido pelo resultado do conclave. A fumaça branca, que saía da chaminé mais vigiada do mundo, denunciava: o ex-superior de sua ordem religiosa, o cardeal Robert Francis Prevost, com quem se encontrou inúmeras vezes enquanto irmãos agostinianos, acabara de se tornar papa. Surpresa para o sacerdote e para a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, de Bragança Paulista, onde o agora Papa Leão XIV visitou algumas vezes ao longo de sua vida.
“Quando disse ‘Robert’ eu já não consegui mais assinar [...]. Quando você diz “ah, eu conheci o papa”, é uma coisa. Quando você diz “o papa é um irmão de ordem, é um confrade”, é outra [...]. Porque nós podemos, com muita certeza e convicção, falar dessa pessoa. Não é porque eu vi, é porque eu vi, convivi e conversei. E hoje, olhando para trás, que interessante, um sinal da presença do Senhor, um preâmbulo do que iria acontecer”, falou o pároco, emocionado.
Segundo Frei Rivandro, esses encontros internacionais são de praxe e quem assume um cargo, como foi o caso do Frei Prevost durante dois mandatos, sempre está presente. Foi o papa, inclusive, quem presidiu a profissão solene de Rivandro, quando assumiu o compromisso definitivo e irrevogável com a ordem.
O papa visitou Bragança… de ônibus!
As visitas à Bragança não foram meras formalidades, mas, enquanto superior da ordem, Frei Prevost tinha o dever de conhecer profundamente as obras que estavam sob os seus cuidados. Por isso, mais que observar, ele precisava absorver e viver aquela realidade. Para os agostinianos, a vida em comunidade “é muito cara”, no sentido de que, nas visitas, os confrades precisam ser partícipes e ter o coração aberto.
São parte fundamental desta realidade, as obras agostinianas que acompanham a história de Bragança Paulista e ajudaram a cidade a se desenvolver. A Paróquia Nossa Senhora Aparecida, que pertence à Diocese de Bragança Paulista, é, de certo modo, uma destas obras, pois é administrada pelos frades agostinianos: sacerdotes que seguem a regra de Santo Agostinho de Hipona, que, segundo Frei Rivandro, pode ser resumida no tripé: interioridade, vida em comunidade e serviço à Igreja.
Em sua primeira visita à cidade, o agora Leão XIV chegou de ônibus, trazendo consigo os noviços para o Seminário Menor que, na época, funcionava onde hoje é a Escola Santo Agostinho. O papa chegou, inclusive, a dormir três noites no local. “A primeira vez que ele veio, ele veio de ônibus, pra mostrar a simplicidade mesmo. Claro que no contexto, era outra época, mas ele veio pegando a Cordilheira dos Andes, Peru, Chile, passando pela Bolívia. 3 dias de viagem e muito sereno”, concluiu.
A Paróquia, assim como o mundo inteiro, trava hoje uma verdadeira batalha com os arquivos, em busca de registros do período em que Leão XIV visitou Bragança Paulista. O motivo é simples: longe dos holofotes, Frei Prevost vivia de maneira humilde, sem se envaidecer com o cargo que ocupava: “Ninguém nunca imaginaria que ele se tornaria papa por conta da sua simplicidade, do seu jeito. Mas olhando a realidade hoje, era necessário”, confidenciou o sacerdote.
O papa e o Brasil
Frei Prevost visitou 50 países onde a ordem agostiniana realiza atividades, mas demonstra um carinho muito especial pelo Brasil e países vizinhos: ele conhece a realidade e os desafios da Igreja na América Latina.
“Nós não temos um papa que diz que gosta do Brasil porque ouviu falar do carnaval, da festa junina. Não. Nós temos um papa que gosta do Brasil de fato porque ele esteve aqui e portanto já vivenciou [...] Ouso dizer que o papa Leão veio em uma boa hora para nossa Igreja. Pelo seu discurso de abertura e pelo seu conhecimento, eu ouso dizer que ele realmente será esse papa da paz”.
Ainda emocionado, o frei reforça que o carisma agostiniano de Leão XIV vai ensinar para a sociedade aquilo que todo frade da ordem coloca em prática em sua vida todos os dias: “é preciso que nos sintamos partícipes da vida do outro, que nos sentemos à mesa na hora da refeição para dialogar da vida; que no momento da dificuldade, olhemos nos olhos [...] me enxergando como corresponsável pelo outro, onde o Senhor coloca alguém para comigo caminhar juntos”, concluiu Frei Rivandro.