Família: Dom e Compromisso

Família: Dom e Compromisso

POSTADO EM 19 de Julho de 2016

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                               É sempre com alegria e esperança que falamos da família. Se são vários os modos de abordá-la e compreendê-la no tempo, permitimo-nos, nestas poucas linhas, refletir sobre ela na perspectiva cristã, tomando, como referência, a revelação, portanto, situada dentro do Projeto do Criador – Projeto amoroso no qual homem e mulher, criados à sua imagem atraem-se mutuamente e, como parceiros e companheiros, são chamados a colaborar na administração inteligente e responsável da obra da criação. “... E Deus os abençoou... e viu que tudo era muito bom” (cf. Gn 1, 27-31).

                                Homem e mulher, feitos um para o outro, no amor e para o amor, tornam-se a imagem para perceber e descrever o Mistério divino que, no mais íntimo, é mistério de amor e de comunhão. Querida por Deus, a união entre o homem e a mulher está vocacionada à comunhão na complementariedade, que dá sentido à vida e vai descortinando a missão de serem um para o outro, aperfeiçoando o amor, na certeza de que os frutos desse amor a integram na grande família – a família humana, que hoje  encontra-se abalada por uma crise que a afeta profundamente em suas relações, nas quais não contam mais os valores absolutos e o próprio indivíduo torna-se a medida de todas as coisas.

                                Em nosso tempo, o ser humano – homem e mulher – vê como desafio que tolhe a liberdade o construir-se por uma compreensão antropológica e por princípios cristãos estáveis. Preferem orientar-se por uma escolha meramente pessoal. Muitas bandeiras se levantam a favor dessa liberdade que tem caracterizado as relações humanas, sem falar das distintas configurações, incluindo as homoafetivas, postulando o direito de serem reconhecidas como família, sobretudo, pelo Estado.

                                 A Igreja, que sempre manifestou amor e solicitude pela família, permanece fiel ao ensinamento de São João Paulo II: “O matrimônio e a família são um dos bens mais preciosos da humanidade, primeira comunidade onde, a partir do anúncio do Evangelho, a pessoa é levada à maturidade humana e cristã, lugar de personalização, onde a vida se torna propriamente humana e primeira escola de virtudes sociais” (cf. Familiaris Consortio – sobre a missão da família cristã no mundo de hoje, n°. 1, 2 e 43).

                                  Quanto às atuais e complexas situações que envolvem a família, o olhar da Igreja será sempre de misericórdia, acolhida e integração, apontando caminhos para seguir em frente. Nos dois grandes encontros – Sínodos – convocados pelo Papa Francisco e que aconteceram em outubro de 2014 e de 2015, em Roma, com representantes dos episcopados do mundo inteiro, casais e peritos no assunto, para tratar da evangelização da família, foi confirmado o ensinamento da Igreja sobre o matrimônio e a família, “redimidos por Cristo, (cf. Ef 5,21-23), restaurados à imagem da Santíssima Trindade, mistério de onde brota todo amor verdadeiro.                                     A aliança esponsal, inaugurada na criação e manifestada na história da salvação, recebe a revelação plena do seu significado em Cristo e na sua Igreja. O matrimônio e a família obtêm de Cristo, através da Igreja, a graça necessária para testemunhar o amor de Deus e viver a vida de comunhão. O Evangelho da família atravessa a história do mundo desde a criação do homem à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26-27) até a realização do mistério da Aliança em Cristo no fim dos séculos com as núpcias do Cordeiro” (cf. Ap 19,9) – (Amoris Laetitia – sobre o amor na família, nº. 63).

                                    Cremos ainda que as crises que afetam nossas instituições, sobretudo a família, farão fortalecer as relações humanas e toda a sociedade, para a sua revalorização como “célula básica da sociedade”, com a recuperação de sua vocação e importância para o mundo; espaço de humanização, proximidade e comunhão entre os seus membros, possível na abertura à Graça de Deus, com uma consciência harmoniosa, sem menosprezar as situações dolorosas em que vive, mas ancorada sempre no Evangelho da alegria.

                                    Como propõe ainda o Papa Francisco, “não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos à procura da plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida”. 

                                                                         Dom Sérgio Aparecido Colombo

                                                                                  Bispo Diocesano

                                                                              Bragança Paulista (SP)

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