OBA! LIBEROU GERAL!
Uma das reações que tenho ouvido, em relação à medida tomada pelo Papa Francisco, quanto à simplificação dos procedimentos que se referem aos casamentos nulos, é expressão do não entendimento daquilo que ele determinou. Penso que não podem pairar dúvidas sobre aquilo que é o sacramento do matrimônio, as exigências para celebrá-lo e as consequências disso. Não se muda o conteúdo da fé sobre a indissolubilidade e fidelidade, componentes essenciais da sacramentalidade matrimonial. O que muda é a maneira de orientar o trabalho na Igreja para que não haja tanta demora na definição das situações que aparecerem e que o Bispo diocesano possa, formada a consciência sobre a nulidade (não existiu sacramento), declará-la. Lembremos que para os cristãos de fé católica o casamento é sempre um dom dado por Deus, abraçado por quem tem vocação para ele e que tem a marca do sair de si mesmo para fazer a pessoa, a quem se diz amar, feliz. Costumo dizer que se tivesse vocação para escrever livros, o tema do casamento proporcionaria páginas emocionantes, carregadas de histórias luminosas. Haveria, também, muitas carregadas de tristezas, fracassos. E algumas hilariantes. Como aquela do casamento de um sábado: cheio de gente, cheio de flores, músicas ensurdecedoras, festa completa, etc. Na segunda feira o noivo procura para pedir orientação para a anulação do casamento: diante da surpresa do padre, a resposta: “Sabe, a gente ganhou tantos presentes. Ficava feio não casar e não dar a festa”! No caso, é claro, um casamento “nulíssimo” (perdoem a criação do termo)! Faltou a reta intenção e a consciência de assumir o ato que celebravam. Permitam-me os leitores voltar ao tema da nulidade matrimonial. Não se trata de anular casamentos. Trata-se de reconhecer que determinados casamentos não existiram porque alguns motivos antecedentes tornaram a cerimônia sem efeito, vazia. Foi feita a formalidade. Faltou a Verdade. O processo de nulidade que o Papa agora deseja, seja feito de modo mais célere e descomplicado (tanto quanto possível) é reconhecer o erro cometido. Junto a isso se analisará a situação atual dos que pedem a nulidade. Ver se amadureceram, se têm levado vida em comunidade, se problemas comportamentais foram superados, se as causas da nulidade foram vencidas. Este trabalho na Igreja não será feito na base do “oba oba”! Vão se exigir provas da maturidade de quem pede a nulidade e ver se tem consciência do ato de fé que deseja poder celebrar. Parece que nossos tempos estão a exigir um maior cuidado na informação e preparação dos que desejam casar-se. Isso envolve família, sociedade e comunidade de fé. A catequese em preparação ao casamento pede atualização e disponibilidade. Tanto de quem se oferece para passar aos noivos conteúdos ligados aos diversos aspectos, que vão da preparação à vida de casados, como dos noivos que nem sempre se mostram dispostos a ouvir e refletir. Os nossos tempos proporcionam, pela mentalidade existente, a normalidade daquilo que vamos vendo como “test drive”! Por uma razão ou outra vai-se vivendo mais ou menos junto! Se as coisas forem bem, em algum momento o casamento acontecerá. Se as coisas não caminharem bem, se termina e se parte para outra! Muitas vezes os relacionamentos ficam reduzidos ao acertar-se na cama como se isso fosse o fundamento do conhecer-se. O que se passa em relação a valores, princípios, condutas, caminhos de fé, visão de trabalho, responsabilidades pessoais, limitações de caráter não aparece. Vão descobrir muito depois. Aí vai chegar o rompimento. Sempre sofrido porque, me perdoem, ninguém sai do casamento dando risada. Ao lado dos problemas pessoais nós temos as pressões dos bufês e das equipes que oferecem toda gama de serviços. Alguns providenciam até sacerdotes (sabe-se de que igrejas e, tristemente, por quanto dinheiro), pastores ou celebrantes que se colocam a dizer algumas palavras (até bonitas) e assumem o papel de presidentes da celebração, testemunhas que se autoqualificam. Creio que todos devemos rever como estamos ajudando os noivos a caminhar para o casamento. Uma verdadeira conscientização será a base para que as cerimônias sejam o coroamento de caminho seguro. Evitaremos cerimônias de muita ostentação, mas que nada têm a ver com a verdade!