QUARESMA
Iniciamos na quarta feira o tempo quaresmal. Tempo penitencial que prepara para a festa mais importante e basilar dos cristãos: a Ressurreição de Jesus Cristo! Antiga tradição marca quarenta dias simbólicos entre início da quaresma e Páscoa. O número 40 tem forte incidência bíblica e significa um tempo especial onde se vivem experiências radicais; também a experiência de relacionamento profundo com Deus. Baste lembrar os 40 anos de caminhada dos hebreus pelo deserto (uma grande peregrinação da terra da escravidão para a terra da liberdade – Êxodo 15 e ss.); os 40 dias e noites de Moisés no Horeb (Deuteronômio 9,9ss.); os 40 dias para Nínive ser destruída se não se convertesse (Jonas 3,4); os 40 dias de jejum de Jesus, também no deserto, um tempo largo de experiência com as limitações humanas e as propostas do mal (Lucas 4,2). Este tempo quaresmal sucede à celebração do carnaval. Este tem suas origens próximas às festas da Roma pagã. Os cristãos foram inculturando hábitos e tradições. E na perspectiva da celebração do Ressuscitado “cristianizaram” ritos pagãos. Por isso se tornou prática, após os folguedos carnavalescos, chamar a atenção, de forma mais forte, para uma Festa que dá sentido à existência humana e que se prolonga para além do calendário: a Páscoa! É verdade que na quaresma salienta-se, pela devoção popular, o caminho sofrido de Jesus Cristo. É preciso, porém, recuperar o significado principal do chamado á conversão. A escolha dos textos bíblicos que serão lidos nas celebrações eucarísticas terá esta tonalidade: chamar a atenção para o estilo de vida dos cristãos. Ao lado disso, aqui no Brasil, faz mais de 50 anos se propõe algum tema que leve a olhar a realidade na ótica de fé. E abra perspectiva de ações concretas que manifestem conversão. É a Campanha da Fraternidade. Neste ano com o chamado: “Casa comum, nossa responsabilidade”. Seguindo a metodologia já consagrada nas ações pastorais da Igreja a proposta é colocada na linha do Ver-Julgar e Agir O objetivo geral da campanha é assim proposto: “Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”. A seguir vêm os objetivos específicos para a ação: 1 – Unir as igrejas, diferentes expressões religiosas e pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do direito ao saneamento básico; 2 – Estimular o conhecimento da realidade local em relação aos serviços de saneamento básico; 3 – Incentivar o consumo responsável dos dons da natureza, principalmente da água; 4 – Apoiar e incentivar os municípios para que elaborem e executem o seu Plano de Saneamento Básico; 5 – Acompanhar a elaboração e a execução dos Planos Municipais de Saneamento Básico; 6 – Desenvolver a consciência de que políticas públicas na área de saneamento básico apenas tomar-se-ão realidade pelo trabalho e esforço em conjunto; 7 – Denunciar a privatização dos serviços de saneamento básico, pois eles devem ser política pública como obrigação do Estado; 8 – Desenvolver a compreensão da relação entre ecumenismo, fidelidade à proposta cristã e envolvimento com as necessidades humanas básicas. No texto base é apresentado um panorama do que existe e das carências no que se refere ao saneamento básico. Apresenta-se o quadro da palavra dos profetas, em especial, Amós. A Palavra de Deus que clama para a vida digna para todos. Ela convoca a tomar atitude que salvem a vida. Há um bom número de perguntas que ajudam a ter clareza sobre o que fazer. Por exemplo: como cuidamos da água, como cuidamos do lixo que produzimos, se nos preocupamos com aquilo que é comum a todos ou se só nos preocupamos conosco mesmos. Finalmente se sugerem pistas concretas para agir. Ressalte-se que a Campanha da Fraternidade neste ano é ecumênica, isto é, é proposta pelas igrejas que fazem parte do CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs). Porque o cuidado com a vida não se fecha numa só visão religiosa. Quer ser apelo para os que se dizem crentes em Cristo para que coloquem em prática o que dizem crer: amar a Deus, Criador de tudo o que existe, e amar o próximo, ser humano e natureza, por amor ao Criador.