A ESTUPIDEZ DA GUERRA

A ESTUPIDEZ DA GUERRA

POSTADO EM 23 de Novembro de 2015


Image title

Diante dos atentados realizados em Paris, resolvi recordar artigo que escrevi quanto da invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América. Deixemos claro que nenhum tipo de terrorismo é justificável. Nem de um lado nem de outro. Mas não custa perguntar quais são as suas raízes. Estas estão fundadas nas explorações vividas interna e externamente. A coloração religiosa serve para dar alicerce místico. A chama da fé é que dá sentido até para o martírio dos homens e mulheres bombas. A visão do outro como infiel que deve ser eliminado monta o arcabouço extremista. Nada justifica a violência. Embora se compreenda a reação a quem deseja assassinar pessoas como um modo de buscar, na sua visão, o pagamento por males sofridos no passado e no presente. Não há dúvida que as nações devam procurar medidas de segurança para evitar outras tragédias. Mas devem também buscar quem são os fornecedores de armas, quem compra o petróleo dos EI, quem está oferecendo apoio econômico e logístico, etc. E, sem dúvida, que perspectivas de vida se oferecem à juventude. Talvez o viés moralizante, diante de sistemas sociais corruptos, a diferença de parte opulenta da sociedade em contraposição a falta de oportunidades para grande maioria, esteja estimulando jovens a fazer justiça com as próprias mãos. Quando escrevi este artigo (há 11 anos, mais ou menos) andei buscando uma expressão para dar-lhe título. Para não cair no calão, fiquei com “estupidez”. Diante das fotos que mostravam as humilhações sofridas por iraquianos presos teria preferido  outra palavra mais pesada. Retomo o artigo: “Não se pode ser ingênuo ao analisar o que os meios de comunicação apresentam. Sei que não são somente os soldados envolvidos na guerra do Iraque a serem marcados pelo desejo de tripudiar sobre os vencidos e indefesos. Esse não é “privilégio” deles.  As forças armadas de qualquer país podem incorrer, no confronto com os “inimigos”, em atos de selvageria. Igualmente os próprios violentados de hoje podem ter sido os violentadores de ontem e poderão ser os de amanhã... Além do mais não devemos esquecer as outras faces da humilhação, faces mais ou menos violentas, escancaradas ou sutis que são experimentadas por tanta gente, todo dia, em todo lugar... Limito-me, nestas linhas, ao fato da guerra. Desta e das outras. Penso ser necessário reafirmar a estupidez desse meio para buscar soluções. Qualquer guerra é estúpida. Já disse alguém que numa guerra não existem vencedores. Todos são derrotados. Os valores fundamentais sucumbem às lagartas dos tanques. São esmagados pelas botas dos soldados. São explodidos pelos obuses e minas. Queimados pelo napalm e lançachamas. Pulverizados pelas bombas. Atingidos pelos foguetes “inteligentes” da guerra cirúrgica. Vitimados pelos Migs, Skyhawks, Harriers, Mirages, Sukhovs, B52, etc... O dinheiro tem sido o pressuposto escamoteado para a maioria das guerras. Com ele a solidificação do poder. Para determinar aos outros o rumo a seguir. Para benefício dos donos do poder e da economia. A guerra romântica da defesa da liberdade e dos direitos agredidos é poesia. As guerras do nosso tempo são frutos da geopolítica da dominação. Do império do dinheiro que precisa fazer mercado. Sem o mercado não sobrevive. Daí crie-se a necessidade da indústria da guerra: cada tiro disparado, cada avião abatido, cada casa arrasada, cada ponte destruída significam investimentos. O que não tem preço e é barateado é a vida humana. E isso não entra no cálculo. Quem sabe só para propaganda de “heróis mortos”. Aliás, é bom que nem se saiba quantas pessoas morram. Quanto menos dados, quanto menos fotos, tanto melhor. Quem sabe quantas pessoas morreram na Guerra do Golfo? Nesta atual escalada no Iraque? Na guerra da ex-Iugoslávia? E nas guerras intermináveis e escondidas da África? Quem fala dessas? Seus exércitos são tão maltrapilhos que não interessam. O que ganhamos com toda essa mortandade? E com as somas astronômicas queimadas? Creio que temos que ser quixotescos. Só Dom Quixote conseguiu enfrentar os gigantes-moinhos em busca de sua Dulcinéia. Porque o imaginário tomou forma na sua vida. E no imaginário realizou seus sonhos. Quando perdemos a capacidade do imaginário a vida se torna pobre. Limitada e materialista. Olha o chão. Porque não consegue levantar a cabeça. O horizonte desaparece. Quando isto acontece resta o chão da sepultura. E é isso que os potentados desejam para a humanidade. Que os sonhos e ideias morram. Assim poderão dominar melhor. Não cabe no coração do humanista esse tipo de visão e conformismo. Há que reafirmar o valor e a dignidade da vida. Acima dos interesses de poder. Um longo caminho. Feito de esperança. De sonhos. Mas possível. É só acreditar!

© Copyright 2025. Desenvolvido por Cúria Online do Brasil