Homilia “Coroada Rainha do Brasil” - 14 de julho de 2017

Homilia “Coroada Rainha do Brasil” - 14 de julho de 2017

POSTADO EM 18 de Julho de 2017

Diocese de Jaboticabal

Novena Solene – Nossa Senhora do Carmo

14 de julho de 2017

Homilia

Coroada Rainha do Brasil

Maria, Imagem da Igreja Glorificada

Ap 12, 1-3.7 – 12ab.17 Lc 1, 39-56

Irmãos e Irmãs!

Falar de Nossa Senhora como Rainha do Brasil é falar de sua realeza associada à realeza de seu Filho, portanto, AMOR e SERVIÇO. Para compreendê-la coroada como rainha do Brasil, recorremos à história que relata que a princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, e o seu marido Gastão de Orleans, o conde D’Eu, estiveram em Aparecida no dia da festa da Santa, 8 de dezembro do ano de 1868. Foi nessa data que ela doou para Nossa Senhora a coroa de 300 gramas de ouro 24 quilates e 40 diamantes.

Uma lembrança viva que guardamos da princesa Isabel é a de libertadora dos escravos. Foi ela quem assinou a abolição da escravatura do Brasil, em 13 de maio de 1888, quase vinte anos depois de ter dado o presente que a imagem histórica de Aparecida passaria a usar de modo constante.

A festa da coroação e do título real aconteceu mais tarde, em 8 de setembro de 1904, e tornou-se o dia mais importante e das grandes romarias. A entrega do título real recebeu a aprovação da Conferência dos Bispos do Brasil e do Papa. Alguns historiadores relatam que esse acontecimento ganhou destaque, porque a Igreja queria mostrar a sua força ao regime republicano instalado em 1889.

As autoridades tinham banido da Constituição e da vida pública o nome de Deus e o de Nossa Senhora, para enfraquecer a força da fé católica e os sentimentos religiosos do povo, exatamente o que estão querendo fazer em nossos dias.

Deus e seu projeto de amor parecem ser os grandes intrusos a interferir na vida e na liberdade, quando na verdade é dele que nos vêm tão grandes bens.

Mas havia outro motivo para a escolha da data: os 50 anos da declaração do Dogma da Imaculada Conceição pelo Papa Pio IX, no dia 8 de dezembro de 1854.

No livro do Apocalipse, precisamente no texto que ouvimos na primeira leitura desta celebração, aparece a figura da mulher que tem por manto o sol, sinal da proteção de Deus. Tem a lua sob os pés, isto é, já possuí a eternidade de Deus, e na cabeça uma coroa com doze estrelas, ou seja, é vitoriosa, aos quais representam as doze tribos de Israel e os doze apóstolos. No Apocalipse, a roupa concede identidade à pessoa. Sol, lua e estrelas são elementos cósmicos simbolizados, são a “roupa” da mulher , ou seja, a sua identidade. Em outras palavras, o Apocalipse afirma que essa mulher está profundamente ligada e identificada com Deus: sol que envolve como vestido, lua que envolve por baixo e estrelas que envolvem por cima.

Mas, quem é esta mulher? Podemos compreendê-la primeiramente como EVA, a Mãe da humanidade (Gn 3, 15-16); como o POVO de DEUS do Antigo Testamento (as doze estrelas); como SIÃO – JERUSALÉM, esposa de Javé; como MARIA que dá à luz o Cristo.

Mas é, sobretudo, como a IGREJA – comunidades do tempo do Apocalipse que a compreendemos. Ela tem dimensão celeste, sinal que aparece no céu, e dimensão terrena, encontra-se no mundo, procurando dar continuamente à luz o Cristo. As comunidades se identificam com essa mulher e descobrem nela a raiz de seu ser e de sua missão no mundo. É a mesma mulher que no Magnificat mostra o agir de Deus na história a partir dos pequenos e daqueles que não significam nada, como era a situação de muitas mulheres no Antigo Testamento. Um Deus que realiza sua ação no mundo por meio dos últimos, que a sociedade estruturalmente injusta vai abandonando. Exatamente por isso o cântico de Maria é revolucionário, porque, ao refletir as convicções de uma alma livre e libertada convida também a uma autêntica libertação, libertação de estruturas injustas que, por Deus e em nome de Deus, mantem o povo mergulhado na discriminação, na fome e no abandono.

Lucas coloca nos lábios de Maria o que todo crente de coração simples deve proclamar, não somente com os lábios, mas sim realizá-lo através de seu esforço e de sua luta cotidiana. É um convite a não continuar “engolindo” o conto de que uma sociedade tão injusta como a do tempo de Maria – como também a de hoje – seja o reflexo de algum desígnio ou querer de Deus. E o que é mais revolucionário ainda, o Magnificat revela uma imagem de Deus completa e absolutamente diferente da imagem de um Deus que se deixa controlar pelos opressores.

É pena que o Magnificat tenha perdido, não se sabe desde quando, a força libertadora inicial, transformando-se num cântico à resignação, à expectativa passiva de mudanças e intervenções divinas a favor dos pobres, dos famintos e dos humilhados, as quais se desconhece quando aconteceram, mas que “é preciso esperar”. Entretanto não foi esse o seu sentido original. É certo que Deus intervirá em favor dos humilhados e marginalizados, mas apenas quando nós, com os nossos esforços e a nossa luta, começarmos a preparar “tal intervenção”.

Em Jesus glorificado, em sua Mãe glorificada, antevemos, de modo iminente, nosso próprio destino futuro. Ela já vive o que iremos viver quando morrermos e formos ao céu, afim de lá desfrutarmos de nossa realeza por toda a eternidade.

Olhando para Maria, ressuscitada e glorificada, que seguiu os passos de seu Filho, nos animamos a lutar pelo bem, pela verdade e pela justiça.

Mesmo que a incompreensão e o fracasso aparentemente sejam mais fortes, cremos na força de Deus e no poder do seu Cristo Ressuscitado. Ele inaugura para nós o “novo céu e a nova terra”, onde Maria está com os Santos. Lá estaremos também nós, bem perto de Jesus, onde todas as lágrimas serão enxugadas e não haverá mais sofrimento nem morte.

Só assim compreenderemos a realeza de Maria: na pobreza de sua serviçalidade, que se constituí e se constituirá sempre no AMOR – SERVIÇO, incansável na proclamação de um Deus misericordioso que caminha com o seu povo, pelejando para fazer acontecer seu desígnio amoroso já realizado em seu Filho, cuja realeza em toda a sua grandeza e mistério se revelou plenamente na cruz e na ressurreição.

+ Sérgio

Bispo Diocesano

Bragança Paulista

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