MISSA do CRISMA 23 de março de 2016

MISSA do CRISMA 23 de março de 2016

POSTADO EM 24 de Março de 2016

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MISSA do CRISMA

23 de março de 2016

HOMILIA

“...Quanto a vós, sereis chamados sacerdotes de Iahweh; sereis chamados ministros do nosso Deus...” (Is 61,6)

                                                Caríssimos irmãos presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas, representantes leigos e leigas de nossas paróquias, coordenadores de comunidades, de atividades pastorais e evangelizadoras, movimentos e associações presentes nesta celebração.

                                                Nossa Igreja diocesana se reúne para celebrar a MISSA do CRISMA, sob a presidência do Bispo, rodeado pelo presbitério e ministros, todos feitos, pela fé e pelo batismo, filhos de Deus. Juntos, louvamos a Deus no meio da Igreja, participamos do santo sacrifício e tomamos a ceia do Senhor. É o que ensina o Concílio Vaticano II na Constituição Dogmática – Sacrosanctum Concilium – sobre a Liturgia, n. 10.

                                                Portanto, aqui na Catedral, nesta noite, se realiza o momento mais alto da vida da Igreja, que tem lugar também a ação mais excelsa e sagrada do munus santificandi – o serviço de santificar o povo, conferido ao Bispo.

                                                Nesta celebração se realiza a bênção e a consagração dos óleos, usados na administração dos sacramentos. O óleo é sinal da bênção divina. Ele penetra profundamente; assim, tornou-se sinal do Espírito de Deus. O povo judeu tinha o costume de ungir seus reis (cf. 1Sm 16,1; 11b -13a), seus sacerdotes (cf. Ex 30, 22-25; 30-33) e seus profetas (cf. 1Rs 19, 15-16). Queriam consagrar assim, de modo especial, essas pessoas a Deus, para uma missão específica.

                                                  Hoje, a nossa humanidade, por iniciativa do próprio Deus, continua aberta à ação do seu Espírito. Quanto mais estivermos unidos a Jesus Cristo, mais repletos do seu Espírito estaremos, nós que somos chamados de cristãos, o que quer dizer, “UNGIDOS”. Como disse Santo Inácio de Antioquia, não apenas ostentemos o nome de cristãos, mas o sejamos de fato.

                                                 E o que é ser cristão hoje? Ser cristão é saber que tal iniciativa pertence a Deus – pura gratuidade da parte d’Ele, porque “Ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19) e é “só Deus que faz crescer” (1Cor 3,7). Essa convicção permite-nos manter a alegria no meio de uma tarefa tão exigente e desafiadora que ocupa inteiramente a nossa vida. Pede-nos tudo, mas ao mesmo tempo dá-nos tudo (Evangelii Gaudium, 12). “... Transforma-se num apelo dirigido a cada um de nós, para que não renunciemos ao nosso compromisso de evangelizar...” (Evangelii Gaudium, 120).   

                                                 Abençoamos há pouco o óleo para os enfermos e catecúmenos e consagramos o óleo para o crisma. Eles exprimem as três dimensões essenciais da vida cristã. No óleo para os catecúmenos, usado na primeira unção, no sacramento do batismo, a manifestação do desejo de se pôr a caminho com Cristo. O óleo que manifesta a fé e a procura de Deus. E não nos esqueçamos: não somente nós procuramos a Deus, mas o próprio Deus anda à nossa procura. É Ele que nos dá a sua força. Não é assim que pedimos com o ritual da Igreja, quando ungimos com o óleo os catecúmenos? “O Cristo salvador te dê a sua força. Que ele penetre em tua vida como este óleo em teu peito”. Que maravilha, que dignidade a nossa! Com a força que d’Ele procede, nossa vida seja um constante procurá-lo, conhecê-lo, amá-lo e servi-lo sempre mais. Nesse sentido jamais deixaremos de ser catecúmenos, capazes de Deus.

                                               No óleo dos enfermos, o consolo para todos os que sofrem: doentes, sem esperança, os que estão com o coração dilacerado, os humilhados. O Jesus, que anuncia a chegada do Reino de Deus, o faz com sinais visíveis – restauradores da vida – curando os enfermos. Curar os enfermos é o primeiro fruto da chegada do Reino, da misericórdia infinita de Deus; ação, mandato primordial confiado à Igreja e que jamais pode ser negligenciado.

                                                Meus irmãos presbíteros: destinem no exercício do ministério, como pastores solícitos e não mercenários, tempo aos doentes. Detenham-se com eles. Eles prolongam o sofrimento de Cristo em favor de toda a Igreja. Não olhem para o relógio quando a dor, o sofrimento, o limite da existência exigir sua presença. Administrem com o amor e a sensibilidade do próprio Cristo esse sacramento. Com vocês, agradeço a todos aqueles que, em virtude da fé e do amor, se põem ao lado dos doentes, dando assim, no fim das contas, testemunho da própria bondade de Deus. Seja retomada urgentemente essa obra de misericórdia corporal. Nosso apoio e gratidão aos que, em nossas paróquias realizam, com amor esse ministério, com a visita e a Eucaristia que chegam até eles pelos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão.

                                                No Santo Crisma, o óleo das unções sacerdotal e real,  ligadas às grandes tradições de unção da Antiga Aliança, o mais nobre dos óleos eclesiais. Se com o batismo e a confirmação adentramos ao Povo de Deus, é o óleo do crisma que nos configura como um povo sacerdotal, um povo cujo agir revela as maravilhas de Deus em favor de todo o mundo. Isso não deve nos vangloriar, mas sim nos alegrar. Ungidos por ele, óleo de oliveira com perfumes vegetais, nos tornamos um povo de servidores, verdadeiro santuário de Deus no mundo, cujas portas devem estar sempre abertas. Pelo exercício do nosso ministério sacerdotal, muitos irmãos e irmãs cheguem à fé em Cristo.

                                                   Finalmente, dirijo uma palavra a vocês, meus irmãos no ministério ordenado – sacerdotal – ministério a ser acolhido e vivido segundo o coração de Deus, puro dom e graça d’Ele e não por tradição ou mérito como na Antiga Aliança. Sacerdotes servidores do povo, administradores da misericórdia de Deus, ensinando, santificando, governando, conformando a vida com o Mistério da Cruz do Senhor.  

                                                 Com o amado Papa Francisco, eu peço: que nossa vida no ministério não seja marcada pela “normalidade” no cumprimento de tarefas cotidianas, adaptando-nos ao que mais nos agrada, que da segurança, satisfeitos com o que já fazemos. O sacerdote não pode escolher ser só uma pessoa “normal”. Isso o tornará frouxo e medíocre. Impõe-se que seja ousado na ação evangelizadora, corajoso, profeta, tendo  presente, sobretudo, os desafios que o interpela, como também a toda Igreja.  O que significou a exigente proposta da Campanha da Fraternidade para nossas paróquias e comunidades? Despertamos as consciências para o cuidado e a corresponsabilidade pela nossa “casa comum”? Quais foram os gestos concretos que surgiram do nosso trabalho? O povo nos espera. Espera a nossa coragem, nossa liderança positiva, assim como o aconchego de nossa paternidade. Os pobres nos esperam. Esperam nosso acolhimento e solicitude. Todos querem se abeirar de nossa fidelidade, bondade, santidade.

                                                Sejamos alegres, homens espirituais e pastores misericordiosos. O evangelho da simplicidade e da vida se difunda a partir de nós. Fujamos da mundanidade, da duplicidade, das compensações que em nada nos identificam com o Pastor Jesus. Seja simples o nosso falar, agir, o modo de tratar com os irmãos e irmãs. Que eles compreendam o anúncio que cada dia fazemos, mormente na celebração da Eucaristia, do Cristo crucificado e ressuscitado. Sejamos homens da comunhão para a missão. Não tenhamos medo da proximidade com o Bispo e da proximidade entre nós. E sejamos próximos do povo. Se assim não for, não servimos para o exercício de tão nobre ministério. Tenhamos cuidado uns pelos outros, pois o nosso isolamento diminui a nossa fecundidade e a nossa credibilidade. Vivamos intensamente unidos ao Senhor, renunciando a nós mesmos, impelidos pelo amor de Cristo.

                                                 Sob a proteção de Maria, nossa mãe e padroeira, vivamos o nosso sacerdócio. Que ela volva para nós seu olhar misericordioso e nos torne dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus. Amém.   

                                                                                     + Sérgio

      Bispo Diocesano

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