Ensinar a ler o mundo à luz da fé cristã

Ensinar a ler o mundo à luz da fé cristã

POSTADO EM 18 de Julho de 2018

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Por Pe. José Antonio Boareto

A Semana Nacional de Atualização para Formadores que aconteceu no Rio de Janeiro de 09 a 13 de julho teve como objetivo refletir acerca da dimensão intelectual no processo formativo sacerdotal.

Dom Joel Portella, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e professor da PUC-RJ nos ajudou a compreender melhor essa exigência. Refletir sobre a dimensão intelectual como as demais dimensões que implicam a formação integral é se perguntar antes de tudo pela identidade.

Que sacerdote a ação evangelizadora de nossos dias necessita? Essa pergunta segundo o bispo não é feita porque como existe a compreensão de que o sacerdote é sacerdote eternamente, então sendo sacerdote ele estaria pronto e com isso não considera que esse eterno se faz no tempo e no espaço também.

Qual é o perfil do sacerdote que a Igreja necessita hoje? Na nova ratio esse perfil é descrito no capítulo 5 nos números 116-118 e no capítulo 8 nos números 153-187. No que tange a  dimensão intelectual os seminaristas são formados para traduzir a dinâmica da fé mediante a razão; responder as grandes questões da carência de sentido hoje, formados para dialogar e para isto é necessário contrariar decididamente a tendência de reduzir a seriedade e exigência dos estudos.

É preciso superar os modelos formativos da Cristandade pois engessam toda formação num anacronismo e não permite viver o próprio propósito da formação. A nova ratio apresenta a especificidade da formação sacerdotal baseada no documento Pastores Dabo Vobis de São João Paulo II:

1. Preparar para anunciar o Evangelho dialogando com as questões do tempo presentes;

2; Necessidade de articulação das dimensões humana-afetivo, espiritual e ministerial;

3. Enfrentar novas questões com discernimento (consciência crítica) ao que responde a Revelação e o que não responde. Considerar que a formação é integral isto é envolve toda a pessoa e por isso mesmo ela não é somente para o período de formação no tempo de seminário mas acompanhará o sacerdote pela vida toda.

É preciso considerar não só o ambiente universitário como espaço da formação intelectual mas toda a comunidade é formadora. É preciso ajudar a traduzir o que é apreendido e relacionar com a pastoral. O que se espera da formação intelectual dos seminaristas é que tenham uma sólida compreensão de Filosofia e Teologia , como também tenham conhecimentos psicológicos e das ciências sociais como também recebam uma preparação cultural geral. Que sejam formados para uma postura de diálogo profícuo com o mundo contemporâneo. Não se deve negar falar de assunto nenhum.

E diante das dúvidas e questionamentos cabe a cada um se perguntar o que Jesus faria nessa situação? O que se espera do formando é que assuma esse método para a vida. Que saiba ler o mundo à luz da fé.

No modelo de Cristandade anterior ao Concílio Vaticano II não havia essa compreensão de integrar as dimensões. Assim é preciso traduzir o que é estudado nas demais dimensões e trazer destes os questionamentos. E assim o perfil que se espera do formando é que tenha capacidade de assimilação da fé interagindo com a realidade numa perspectiva dialogal.

O padre que é Igreja precisa é aquele que responda as expectativas atuais das exigências evangelizadoras, isto é, uma Igreja em saída e em diálogo com o mundo. Estamos vivendo uma mudança de época que traz novos questionamentos as referências e oferecem novas estruturas mentais e culturais. Há um profundo descompasso sócio-cultural pois a mudança de época atinge o alicerce mais profundo, isto é, a identidade. E nesse sentido é preciso considerar a atual realidade que exige mais do que respostas fazer as perguntas e essas devem ser feita à luz da fé.

É preciso articular a Revelação com a História, ou seja, os conteúdos da fé com os acontecimentos do cotidiano.

A nova ratio fala do perigo de um "inteleto de gavetas" (186 b), isto é, não conseguir fazer um processo de síntese integrando as dimensões e acabar apenas obtendo conhecimento sem nenhuma conexão com a vida. Para escapar desse perigo é preciso compreender, discernir, interagir e transformar (com) o mundo. Fazer síntese não é tão simples, há sempre o perigo dos extremos, adaptar sem critérios e ou mesmo fugir para um mundo arrumado. Urgente na formação intelectual se faz necessário superar a douta ignorância.

Constata-se que a realidade dos formandos é de baixa formação intelectual, um histórico de famílias sem estudos e a busca por garantias institucionais. Diante dessa constatação a nova ratio recupera a figura do prefeito de estudos ou orientador de estudos. Embora ele saiba que hoje em dia não influencia tanto pois as redes sociais conseguem mais não é indispensável. Cabe a ele ser mestre das sínteses, ter carisma para isto, buscar atualização contínua.

Em relação aos professores pede a nova ratio que saibam os conteúdos e transmitam, façam o pensamento crescer e avançar, por isso faz-se necessário ser capaz de articular o que foi apreendido com outras disciplinas e a realidade. O lugar da formação intelectual pode ser no próprio seminário, ou na universidade ou mesmo a distância, o que não se pode abrir mão é do contato humano na relação professor-aluno.

Na nova ratio no número 186 d se fala da importância de grupos menores para as sínteses no âmbito acadêmico e com as demais dimensões. E por fim o que se espera de um padre segundo a nova ratio:

1) Tenha boa formação na graduação;

2) Abra-se à formação permanente;

3) A Diocese tenha sacerdotes formados (pós-graduados) nos diversos campos do saber filosófico, teológico e em outras ciências para ajudar os outros.

4) A formação presbiteral pode ser feita fora do Seminário até em outros países.

A exigência acadêmica para a formação presbiteral:

1) 2 a 3 anos de Filosofia e 4 anos de Teologia;

2) Formação psicológica e em ciências sociais;

3) Capacidade de analisar as situações e problemas concretos;

4) Compreensão da cultura atual globalizada;

5) Discernimento das implicações doutrinárias e pastorais;

6) Capacidade de fazer sínteses;

7) Suscitar perguntas a partir dos novos desafios;

8 ) Sadia integração do coração.

E em relação as disciplinas a nova ratio oferece um detalhamento das matérias em cada etapa formativa. Ressalto a importância que dá a nova ratio a compreensão que a formação integral considere a exigência da inculturação, do meio-ambiente em seu aspecto sócio-ecológico e o ecumenismo e o diálogo inter-religioso.

Os estudos filosóficos e teológicos feito com o reconhecimento civil trazem a vantagem de terem uma postura mais dialógica com a sociedade. Sem mais o que acrescentar, diria, que a exigência maior que nos foi feita durante esta semana é compreender a necessidade da dimensão intelectual não como pura repetição de conteúdos ou obter conhecimentos sem nenhuma conexão com a vida, pelo contrário, fomos convocados a formar os seminaristas para dialogar com o tempo presente, ensinando-os o discernimento necessário que os faça capaz de ler a realidade à luz da fé e possam assim compreendendo, discernir, interagir e transformar esse mundo tornando cada vez mais justo e solidário sinalizando aqui já o Reino de Deus que está no meio de nós.


Rezem por nós formadores e os seminaristas


Deus vos abençoe!

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