A Festa do Corpo de Cristo

A Festa do Corpo de Cristo

POSTADO EM 13 de Junho de 2017

Por. Monsenhor Giovanni Barrese

A FESTA DO CORPO DE CRISTO

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Escrevo esta reflexão às vésperas da Festa de Corpus Christi. Festa de antiga tradição entre nós, trazida para nossa terra pelos colonizadores. Vale a pena recordar suas origens.

Ela remonta ao século XIII. Movimentos negavam a presença real de Jesus no pão e no vinho. Essas idéias desembocaram, depois, na afirmação protestante da presença simbólica. O Magistério da Igreja sentiu necessidade de realçar a presença real do "Cristo todo" no pão e no vinho consagrados. O papa Urbano IV, na época o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège, na Bélgica, recebeu o segredo das visões da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, que afirmava ter tido visões de Cristo demonstrando desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.

A Festa foi aos poucos se estendendo para toda a Igreja. Se a festa teve origem como resposta à negação ou imcompreensão da herança deixada pelo Senhor na celebração da Ceia que precedeu sua prisão, tornou-se cada vez mais consciencia de que a Igreja viveu e vive da Eucaristia, como nos recordava o Papa João Paulo II numa carta enviada para a Quinta Feira Santa, há alguns anos.

A celebração da Eucaristia é o centro e o ápice da vida cristã, ensina o Concílio Vaticano II.

São Lucas no livro “Atos dos Apóstolos” nos recorda que a primeira comunidade reunia-se no Dia do Senhor para celebrar o que Jesus disse que deveria ser feito em sua memória. Temos como afirmação de fé que a celebração da Eucaristia é o memorial da Redenção do Senhor Jesus sobre todo o criado. A categoria de memória (zikarón) na Bíblia não quer dizer renovação. Quer dizer tornar presente. Uma coisa é renovar (fazer de novo) outra coisa é entrar na categoria do tempo eterno de Deus (onde tudo é presente). A missa não renova a morte de Cristo, o seu sacrifício. Ele morreu uma vez por todas. De uma vez por todas ofertou o sacrifício perfeito, como fala a carta aos Hebreus.

Por isso mesmo a celebração eucarística é sempre a celebração da Páscoa do Senhor. Não é celebração da sua morte. È celebração da vida dada e repartida. Isso nos deve fazer pensar sobre a maneira como participamos do nosso culto. Celebrar a Eucaristia não é um dever legal. É um dever de amor derivado do mandato de Jesus. Faz parte dos sinais que identificam os discípulos do Senhor chamados a segui-lo e a formar comunidade.

Penso que a dificuldade de muitos cristãos em relação à Eucaristia é a de não se preocuparem em conhecer mais e melhor o sentido desse sinal da Graça de Deus para nós. Há uma enorme responsabilidade em buscar uma participação ativa, frutuosa e consciente para superar o risco da mera assistência ao culto. Já houve época que a celebração era mais dos ministros ordenados do que da comunidade. Mas já faz muito tempo que o Magistério da Igreja redirecionou caminhos e comportamentos.

A celebração da Festa da Eucaristia é ocasião para testemunhar o que cremos e o que procuramos viver. Ao recebermos o Corpo e Sangue de Cristo mostramos nosso desejo de que sua vida seja nossa vida, de que seus gestos sejam nossos gestos, suas palavras nossas palavras. Se a Eucaristia é necessariamente participação, a sua festa deve manifestar esse desejo de compartilhar nossa vida com todos, sem exceção. E ao fazer nossa demonstração pública de fé, que se possa ver o empenho em tornar este mundo melhor a partir de uma vida alicerçada na presença de Jesus Cristo em nossas vidas e comunidades.

Que bom que tenhamos recebido a herança da fé na presença real de Jesus na Eucaristia! Isso nos conforta. Nos dá coragem. E nos deve fazer testemunhar que desejamos a mesma vida para todos. E que nos empenharemos para que todos tenham vida e vida plena.

Finalizo recordando que a bela tradição dos tapetes pode ser uma forma de testemunhar a fé no Cristo feito alimento e remédio. O trabalho solidário e alegre, que vai desde o armazenamento do que será usado até ao auxílio daqueles que vão dando suporte, pode ser um belo testemunho nestes nossos tempos tão carentes. E, penso, que cada vez mais deveremos encontrar “enfeites” que tenham utilidade.

Faz alguns anos, juntamente com os conselhos paroquiais de pastoral e economia, fizemos em Atibaia a experiência de coletar roupas e alimentos, cobertores e outras coisas úteis. Colocamos nas ruas faixas de TNT de muitas cores. Sobre elas o que se queria doar. Após a passagem do Cristo sacramentado uma caminhonete ira recolhendo os dons e as faixas. Nada se desperdiçava. Essas faixas recebiam, também, flores e enfeites.

Acredito que foi uma boa atitude na realidade daquela paróquia. Não sou contrário aos tapetes de serragem, pó de café, etc. Mostram a criatividade e a engenhosidade das pessoas. Fica aí uma sugestão.

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