BÍBLIA: UM LIVRO COMPLICADO? (continuação)

BÍBLIA: UM LIVRO COMPLICADO? (continuação)

POSTADO EM 09 de Setembro de 2015

BÍBLIA: UM LIVRO COMPLICADO? (continuação)

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Vimos, na semana passada, que o encontro dos rabinos com os primeiros cristãos fez surgir uma catalogação definitiva dos que eram, para eles, os livros que compunham a Escritura. Acontece que havia em Alexandria, no Egito, uma grande, florescente e muito culta colônia judaica. Vivendo no estrangeiro e falando grego não adotou os critérios nitidamente nacionalistas da reunião de Jamnia. A comunidade judaica de Alexandria traduziu para o grego os livros do Antigo Testamento entre os anos 250 a 100 A.C., dando origem à versão chamada “Alexandrina” ou dos “Setenta”. Essa edição grega tinha os livros que os rabinos de Jamnia não aceitaram, mas que os alexandrinos liam como Palavra de Deus. Recordando: eram Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, Macabeus, trechos de Éster e Daniel. A conclusão histórica nos leva à certeza que existiam dois cânones bíblicos entre os judeus no início da era cristã: o restrito da Palestina e o amplo de Alexandria. Os Apóstolos e Evangelistas, que escreveram em grego, citavam o Antigo Testamento usando a tradução grega de Alexandria. O texto grego, cânon mais amplo, tornou-se de uso comum entre os cristãos. Entre os séculos II a IV houve dúvidas na aceitação desse cânon entre os escritores cristãos tendo em vista a autoridade dos judeus de Jerusalém ou porque atrapalhava o diálogo com os judeus em geral. Prevaleceu, porém, a consciência de que o cânon a ser aceito deveria ser o de Alexandria, adotado pelos Apóstolos. Sabe-se que das 350 citações do Antigo Testamento no Novo Testamento, 300 são tiradas desse cânon. Pouco a pouco, diferentes concílios foram afirmando essa praxe. Nessa época uma voz levantou-se destoante: São Jerônimo que, no início do século V, tinha ido viver em Belém (ainda existe o lugar onde ele viveu e traduziu a Bíblia). Tendo aprendido o hebraico assumiu, também, o modo de pensar dos rabinos. Mas foi a única personagem competente a pleitear a tradição do cânon restrito. No século XVI o monge agostiniano Martinho Lutero em sua contestação à Igreja (motivos que todos conhecemos) postula a adoção do cânon palestino. Daí surge a diferença entre as traduções bíblicas católicas e protestantes. Por curiosidade, porém, é interessante notar que o próprio Lutero traduziu para o alemão os livros deuterocanônicos. Na edição alemã, de 1534, o cânon é o alexandrino. Isso mostra que a utilização desse cânon era comum entre os cristãos. Praticamente até o século dezenove as edições protestantes usavam esse cânon. No que se refere ao Novo Testamento também existiram dúvidas na Igreja antiga. Nos dias de hoje é unanimemente aceito por protestantes e católicos. Não há diferenças quanto aos livros. Para terminar: por que os protestantes passaram a se denominar “evangélicos”, se também os católicos têm os Evangelhos como livros da Escritura? A denominação “evangélica”, para falar de quem é protestante, é recente (finais do século XVIII, início do XIX). A distinção aparece pelo fato dos protestantes terem a Bíblia como única fonte de fé e os católicos admitirem, além da Bíblia, os ensinamentos dos papas e bispos (chamamos de Tradição, isto é a vida vivida da Igreja). Como na história da Igreja católica houve um tempo em que a leitura da Bíblia foi restrita ao clero e aos peritos (determinação que surgiu pelo medo de interpretações não corretas), quando da Reforma Protestante a leitura bíblica foi incentivada. Inclusive com as traduções nas diferentes línguas. Antes a Bíblia era lida em grego (pelos estudiosos) e latim, então, língua oficial da Igreja. Sem dúvida, embora tenha havido movimentos de renovação no interior do catolicismo, o grande mérito do incentivo ao conhecimento e leitura da Bíblia é dos reformadores protestantes. Fica, para todos, o desafio que, sendo todos evangélicos, vivamos o que lemos e dizemos crer. Conheçamos mais o LIVRO que temos e carregamos. Aprendamos a OUVIR a Palavra, vencendo a tentação de seguir o que quisermos. FIDELIDADE ao Senhor acima de tudo.

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