E QUEM SE IMPORTA?

E QUEM SE IMPORTA?

POSTADO EM 03 de AGOSTO de 2016

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Nas leituras bíblicas do domingo, 10 de julho, à luz do texto do livro do Deuteronômio (30,10-14) e do Evangelho de Lucas (10,25-37) se colocava a questão sobre como saber o que Deus espera do ser humano e como deve ser o seu agir em relação ao seu semelhante, o seu próximo. O texto do Primeiro Testamento fala que não é difícil saber o que Deus espera. O lugar fundamental é o que “está na boca e no coração”. Quando se lê no livro do Gênesis que ao criar o ser humano Deus o criou à sua imagem e semelhança (1,26), descortina-se qual a atitude que se espera. Se, como afirma São João, Deus é Amor (1ª 1,8), quem foi criado à sua imagem e semelhança deve ser amor também, deve expressar pela boca (palavra) e coração (atitude) a face de quem o criou. Para explicitar isso Jesus ao ser questionado sobre o maior mandamento e diante da resposta correta de um doutor da Lei, que sabia o que estava perguntando, mas não tinha interesse maior na resposta e buscava justificativa para empecilhos a fim de praticar o que o mandamento dizia, propõe exemplo prático. Um homem foi assaltado e deixado gravemente ferido. Passam pelo lugar dois religiosos, ligados ao Templo. Olham e se afastam cada um com sua desculpa. Quem socorre é um samaritano. Os samaritanos, como se sabe, eram considerados infiéis à fé e aos costumes judaicos. Moradores da parte norte de Israel sofriam a influência de povos pagãos. Isto levou a casamentos mistos e à entrada de outras visões religiosas, de cultos a outros deuses. O infiel teve compaixão e cuidou do desconhecido: quem sabe um judeu que odiava os samaritanos. Esta parábola de Jesus não é uma comparação para um tempo que ficou no passado. Assim como a afirmativa do texto deuteronômico. As colocações bíblicas ultrapassam limites de tempo e lugar porque são palavras de vida. E como cabem em nossos dias! Temos acompanhado inúmeros casos de violência: contra mulheres, ações de membros de polícia que ultrapassam limites do bom senso, ações contra policiais pelo fato de serem policiais, morticínios causados pelos que agem no comércio das drogas, das armas. A falta de empenho em buscar o banimento da xenofobia, homofobia, miséria, corrupção. No fundo parece que ainda não se tomou conhecimento de quem somos e como devemos agir. Qualquer que seja a denominação religiosa ou mesmo sem ela parece que dentro de cada ser humano existe o desejo da felicidade. Este desejo passa pelos valores da honestidade, da retidão, da solidariedade, da fraternidade, do amor, da paz. O que se está percebendo é que estamos menosprezando o valor da vida e o valor do outro. Por conta de interesses pessoais ou de grupo a ganância, com suas muitas faces e justificativas, parece tomar conta de tudo. Parece não haver limite para aquilo que se julga como bom para si independentemente do mal que possa causar a outrem. O sentido do outro como próximo parece completamente obscurecido. Ao abordar a crise político-econômica que estamos vivendo não deixo de ter a impressão de que o que menos importa é a vida de quem faz este nosso martirizado Brasil. Vê-se a multiplicidade de manobras para garantir privilégios e vantagens. E busca-se um modo de garantir impunidade. A última que li: alguém denunciou que determinado político, hoje participando do governo provisório, teria recebido dinheiro em caixa dois nos anos setenta. Se isso aconteceu está errado. Mas juntar isso por conta de todo empenho da ação do Lava Jato é, em minha opinião, manobra para desviar a atenção. Além do mais me parece que, se tivermos que retornar a ver tudo de errado que possa ter acontecido à luz da forma de fazer política, deveremos verificar tudo desde a chegada dos colonizadores. Isso se acharmos que os indígenas que aqui estavam faziam tudo certo! Temos que ser racionais e práticos. Sabemos que denuncias de mau uso do dinheiro publico, infelizmente, não são novidade. Como disse em outro momento: quem não sabe da afirmação que não se faz obra pública sem pagar “pedágio” (com exceções)?  Às vezes parece que passamos de uma atitude que deseja esclarecer tudo para, na verdade, não esclarecer nada. E, no fundo, quem se importa pelo sofrimento de tanta gente?

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