O Tempo Quaresmal e a Campanha da Fraternidade

O Tempo Quaresmal e a Campanha da Fraternidade

POSTADO EM 03 de Março de 2022

O Tempo Quaresmal e a Campanha da Fraternidade

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Todo ano a Igreja no Brasil propõe um tema e lema para ser refletido durante o tempo quaresmal. Este ano o tema é fraternidade e educação e o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr. 31, 26). Esta é a terceira campanha da fraternidade que trata da educação, mas a ênfase desta vez está na intrínseca relação entre fraternidade e educação. O mundo do nosso tempo precisa, e urgente, encontrar caminhos para se reconstruir, ouvindo os clamores dos vulneráveis em uma casa comum cada vez mais vulnerabilizada.

À luz da Palavra de Deus, a campanha da fraternidade quer nos ajudar a compreender duas lições sobre o ato de educar: a primeira diz respeito ao valor da pessoa como princípio da educação. A segunda se refere ao ato de correção, que é conduzir ao caminho reto que não é repressão, mas é orientar a pessoa no caminho de uma vida transformada, verdadeiramente convertida à luz da verdade.

O objetivo geral da campanha da fraternidade é promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário. Ao escutar a realidade da educação brasileira não se pode negar que seu maior desafio é a educação pública no Brasil: “Quando não priorizamos a educação pública no Brasil, construímos uma dupla defasagem: não enfrentamos uma dívida social histórica e prolongamos essa situação de injustiça para as próximas gerações” (Cf. Texto-base CF 2022, n. 74).

A campanha da fraternidade quer convidar-nos a refletir sobre o atual momento de pandemia da Covid-19 considerando os diversos conflitos, distanciamentos e polarizações. Para isto chama-nos à conversão para que aprendendo as lições dos atos fundantes de educar à luz da fé cristã possamos reaprender a amar, a perdoar, a cuidar, a curar, a dialogar e a servir a todos. Faz-se necessário construirmos o pacto educativo global como inspira-nos o Papa Francisco, ou seja, educar para o humanismo solidário e integral considerando a urgência do cuidado com a casa comum. Uma educação que seja humanizadora, que considere a pessoa em sua integralidade (cabeça, coração e mãos), a qual seja perpassada pela gramática da caridade, do Amor, o próprio Deus.

O tempo quaresmal é um momento forte para a conversão. Através dos exercícios espirituais temos a possibilidade de amadurecermos na fé, na esperança e na caridade. A quaresma é um tempo propício para uma experiência profunda de Deus. Neste tempo vivenciamos o dinamismo da espiritualidade pascal em nós, ou seja, preparamo-nos para a celebração da Páscoa, mas já saboreando a Páscoa nossa de cada dia, pois Ele é o Vivente, aquele que venceu o mal e a morte e misteriosamente seu Espírito habita cada um de nós. A tradição apoiada no Evangelho ensina-nos a observar três exercícios espirituais neste tempo: oração, jejum e esmola. A cultura urbana tem para com a palavra esmola um sentido mais depreciativo, por isso têm-se usado a palavra caridade, pois ela é mais que uma esmola, é um gesto de gratuidade.

Considerando que adentramos o tempo quaresmal e temos a proposta da campanha da fraternidade, cada comunidade use a criatividade para oferecer um itinerário espiritual nesta quaresma que ajude-os a converterem-se em seu modo de educar à maneira de Jesus educador, cuja pedagogia, consiste em construir novas relações fraternas fundamentadas em atitudes de amor ao próximo e de perdão que Ele mesmo teve ao percorrer o caminho de seu ministério. (Cf. Texto-base 2022, n. 154). Seguindo à Jesus em seu modo de educar não falte a nós a sensibilidade para compreendermos a urgência de aprofundarmos o sentido do pacto educativo global em nossas comunidades. Consideremos a necessidade de acompanhar os promotores da educação: família, escola e sociedade. É de extrema importância que haja maior proximidade dos educadores (professores e gestores) que frequentam as comunidades, pois eles muitas vezes sentem-se sozinhos e sem apoio para serem escutados em suas necessidades.

 A desigualdade social que antes é racial não pode ficar sem o devido debate em torno da justiça social, cuja iluminação para tal discernimento pode ser encontrado na Doutrina Social da Igreja. Questões complexas, mas pontuais como o novo ensino médio, a cota para negros, a discussão sobre o ensino religioso, o acesso à educação pública universitária e outras questões como direitos dos professores, o valor do seu salário, capacitação, enfim, realidades que dizem respeito a realidade da escola não podem ficar sem a devida atenção. São muitas as oportunidades de conversão pessoal e social que nos oferece a Igreja no Brasil a cada ano. Que possamos compreender a importância da proposta da campanha da fraternidade que colabora para que não façamos da Quaresma, infelizmente, um tempo de jejuar de coisas que gosto, de um pouco de caridade, e de intensa oração, mas em busca de uma perfeição que não me leva a amar ao próximo, e simplesmente alimenta em mim um “narcisismo espiritual”. Que neste ano, possamos viver uma conversão mais profunda neste tempo quaresmal, um chamado à um comprometimento maior com o Reino, com o seguimento de Jesus, com o aprendizado em seu modo de educar para a fraternidade num humanismo solidário.


Pe. José Antonio Boareto

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