E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. (1 Rs 19, 12)

E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. (1 Rs 19, 12)

POSTADO EM 10 de Fevereiro de 2022

E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. (1 Rs 19, 12)


Image title


A referida passagem remete-nos a uma profunda angústia que experimentava Elias. Ele estava buscando fugir de si, havia desejado a morte para si, enfim, queria fugir do próprio medo e das culpabilidades que trazia em si. Entretanto, o Senhor através de tantos sinais demonstrava que o queria vivo, pois o caminho para ele ainda era longo, e por isso mesmo iria alimentá-lo.

Neste texto é possível contemplar uma teofania, ou seja, a manifestação de Deus que aqui vem demonstrado nos versículos 11 e 12. Lemos no texto bíblico: “O Senhor lhe disse: “Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar. Então, veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave”. (Cf.1 Rs 19, 12). O vento aqui não está significando a presença do Senhor, pois o Senhor aqui é ouvido na voz delicada e suave, entretanto, o vento na Bíblia e na Tradição é sempre uma alusão à presença de Deus.

O Cardeal Frei Raniero Cantalamessa em sua obra Vem, Espírito Criador. Meditações sobre o Veni creator ensina a respeito do significado do vento como o Espírito do Senhor. Diz ele: “É tão penoso caminhar, ou remar, contra o vento! Fazê-lo com o vento pelas costas que regalo! É tão duro fazer as coisas sem o Espírito Santo! Fazê-las com Ele: é tudo mais leve!. (...) O vento é a única coisa que não é possível, de modo algum, travar; é a única coisa que não é possível “engarrafar” ou encaixotar para pôr em circulação. É possível fazer isso com a água e, até com a energia elétrica, que pode ser acumulada e encerrada em pilhas. Com o vento, não. Deixaria de ser vento, isto é, ar em movimento, para passar a ser ar parado, morto”. Continuando sua reflexão fala dos perigos da pretensão de encerrar o Espírito Santo seja nas “latinhas” modernas do racionalismo, seja nas “latinhas” eclesiásticas: em cânones, instituições, definições. (p. 46-47).

Continua ele: “O Espírito cria e anima as instituições, mas Ele mesmo não pode ser institucionalizado. Do mesmo modo que o vento sopra onde quer, assim também o Espírito distribui os Seus dons como quer (Cf. 1 Cor 12, 11). Não se pode “canalizar” rigidamente o Espírito Santo nem sequer nos chamados “canais da graça”, como se Ele não fosse livre de agir, inclusivamente, fora deles. O Concílio Vaticano II reconhece que o Espírito Santo “a todos dá a possibilidade de se associarem ao mistério pascal de Cristo por um modo só de Deus conhecido. O vento é o símbolo mais eloquente da liberdade do Espírito”. (p. 47-48).

Reconhecendo que o Espírito Santo é o doce hóspede de nossa alma, saibamos abrir-nos à Sua docilidade. O Espírito Santo é um mistério de ternura e força. Que o Senhor ajude-nos a sermos dóceis e firmes e cada vez mais compreensíveis da liberdade do Espírito que sopra onde quer e não pode ser colocado em “latinhas” e que por um modo só de Deus conhecido dá a todos a possibilidade de se associarem ao mistério pascal de Cristo.

Pe. José Antonio Boareto

© Copyright 2024. Desenvolvido por Cúria Online do Brasil