atenção constante, prudência ativa, compromisso fraterno

atenção constante, prudência ativa, compromisso fraterno

POSTADO EM 15 de Setembro de 2017

Por Monsenhor Giovanni


Os três pontos que dão título a esta reflexão foram oferecidos pela Palavra de Deus própria do 23º terceiro do domingo do tempo comum das celebrações da Igreja. O ponto inicial é o escrito do profeta Ezequiel (33,7-9).

Partindo da realidade da missão das sentinelas das cidades do seu tempo, ele traz o senso da responsabilidade e da vigilância constante. Segundo as normas as sentinelas eram responsáveis pela segurança das cidades. Deviam alertar a população na observação de qualquer perigo. Se fossem desatentas responderiam com a própria vida pelos danos. Se dessem o alerta e ninguém dessa atenção não seriam consideradas responsáveis.

Este trecho introduz a análise da consequência, para os cristãos, de que ao receberem o batismo participam daquilo que Jesus Cristo é.

No rito batismal, no momento da unção com o óleo do Crisma na cabeça, o celebrante afirma que o batizado é inserido em Cristo, que é sacerdote profeta e rei. Sacerdote porque oferece sua vida para que o projeto da salvação se realize; profeta porque olha a realidade com o olhar de Deus e deve auxiliar os seus irmãos a não errar o caminho; rei porque irmãos e irmãs do Senhor não fomos feitos escravos de nada nem de ninguém.

A primeira palavra, tirada do texto de Ezequiel, para quem é cristão e membro da Igreja é a que lembra a responsabilidade profética. Estar sempre vigilante para que os caminhos da vida levem à plena realização do Reino de Deus e para que ninguém se perca.

A prudência ativa é trazida pelo trecho da carta de Paulo aos Romanos (13,8-10).Estamos na época do imperador Nero, conhecido por sua excentricidade e falta de escrúpulos no gasto do dinheiro público. Começa a brotar um sentimento de repúdio com a situação. Começa o questionamento, também entre os cristãos, se essa autoridade deve ser obedecida e se as suas determinações devem ser cumpridas. Paulo, num primeiro momento, fala do respeito que se deve ter para com quem exerce a autoridade.

Num segundo momento vai lembrar que se a lei é injusta ela deve ser desobedecida. Mas, aqui vem o desafio para a ação: qualquer atitude deve ser marcada pelo cumprimento dos mandamentos. E eles se resumem em amar o próximo como a si mesmo. A revolta contra leis injustas deve ser marcada não pelo ódio, raiva ou vingança, mas sim na busca do bem. E isso exige prudência ativa, isto é, ação não aventureira na busca do bem comum.

Por fim o texto do Evangelho de Mateus nos coloca no capitulo (18,15-20) que tem como linha mestra o desejo de buscar quem erra para que se corrija. Na parte oferecida para a leitura se coloca o que chamamos de correção fraterna. Quando alguém erra, o primeiro passo é ir conversar discretamente. Se isso não der certo, buscam-se mais duas ou três pessoas. Não havendo sucesso na correção, coloca-se a comunidade a par da situação. Não ouvindo a comunidade essa pessoa não fala nem age mais em nome da comunidade. Não pertence mais a ela: é um pagão, um pecador público. Necessita converter-se para poder voltar.

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Todos passamos pela experiência de saber erros, especialmente dos outros!

E o caminho mais fácil é falar disso aos quatro ventos ou, numa expressão mais chula, “jogar no ventilador”!

O caminho que o Senhor propõe é não esquecer a fraternidade que une e se sente corresponsável em resgatar quem erra.

O exercício da profecia (olhar a realidade à luz da Palavra de Deus) nos deve mover a tomar atitudes que não tenham sua raiz numa aventura, mas nos levem a ação concreta de auxiliar a redenção de pessoas e situações que causem sofrimento, dor, injustiças e sirvam de estopim para o ódio e a raiva.

As atitudes do Papa Francisco em sua visita a Colômbia caminharam para este horizonte. Sua proposta de perdão e reconciliação entre a sociedade civil e os guerrilheiros das FARC parece impossível. Como perdoar quem matou familiares; quem sequestrou crianças? Como perdoar autoridades que abusaram do poder constituído?

A Palavra de Deus desafia a cada um de nós. Mas no fundo nós sabemos que só o perdão, a reconciliação podem reconstituir laços de convivência.

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