Perseverar quando perseguidos!

Perseverar quando perseguidos!

POSTADO EM 02 de Julho de 2017

Por. Monsenhor Giovanni Barrese

PERSEVERAR QUANDO PERSEGUIDOS!

 

    Por volta do ano 620 antes de Cristo o profeta Jeremias é enviado para alertar autoridades e povo sobre a destruição que se aproximava. Para garantir poder, reis começaram a alinhavar alianças com povos pagãos. A convivência significava um grave risco para a identidade do povo eleito. Outros deuses, materializados pela visualização de figuras humanas e de animais e aves, facilitavam a necessidade de tocar o sobrenatural. Outros usos e costumes colocavam em cheque as tradições dos antepassados. Mas não havia interesse das elites em preservar a si e ao povo.

    Nesse quadro está situada a vocação do Jeremias. Sua missão é denunciar as consequências do afastamento da fidelidade devida a Deus. Ele tenta se esquivar: “Ah! Senhor Javé, eis que eu não sei falar, porque sou ainda uma criança! ” A resposta de Deus: “ A quem eu te enviar, irás, e o que eu te ordenar, falarás. Não temas diante deles, porque eu estou contigo para te salvar” (Jeremias 1 6-8).

    A história deJeremias pode muito bem ser comparada a todos quantos buscam viver a fidelidade a Deus diante do mundo conturbado pela ganância, pela violência, corrupção e desvios de toda ordem. O profeta é marcado pela incompreensão também dos familiares e amigos. Sua pregação era incômoda. É preso, xingado, escarnecido, vilipendiado. Deve esconder-se. Fugir. Num determinado momento, diante da perseguição vem a queixa: “Tu me seduziste, Javé, e eu me deixei seduzir... Sirvo de escárnio todo dia... Eu ouvi a calúnia de muitos... Maldito o dia em que nasci... Maldito o homem que deu a meu pai a boa nova: nasceu-te um filho homem” (Jeremias 20,7.10.14-15).

    Num texto do Evangelho de Mateus, escrito para a comunidade cristã que vivia a perseguição pelo império romano nos anos 80-90, o evangelista recordava as palavras de Jesus àqueles que o seguiam: “Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno” (Mt.10,28).

    Todo crente em Deus, todo discipulo de Jesus Cristo é chamado a denunciar o Mal. Faz parte da fé em Deus, da fé em Cristo a rebelião contra a maldade. Mas como enfrentar essa hidra poderosa e, aparentemente invencível? Todos os dias vemos o vicejar das falcatruas e a enorme dificuldade em eliminar atitudes que menos prezam a honestidade. Parece que somos tão fracos e impotentes!

    A chave da questão se encontra na descoberta que só é possível vencer a maldade se aprendermos a agir e viver como comunidade. Na linguagem religiosa chamamos a isso “Igreja”. Quando Jesus quis a igreja foi para nos fazer ver que o caminhar do Reino de Deus se faria como novo povo com o qual Deus fez aliança enviando o seu Filho.

    A possibilidade de vencer a estrutura devida que não quer saber de Deus e dos valores do seu reino é o caminho feito com o povo. Não há lugar nem sucesso para franco atiradores! Parece que devemos formar consciência que somente caminhando juntos poderemos criar as possibilidades para que a Justiça e Paz que tanto almejamos se firmem cada vez mais.

    Nesta perspectiva devemos olhar a situação entristecedora que vivemos emnosso país. Nossas autoridades maiores se encontram envolvidas num emaranhado de acusações. Para onde nos voltarmos parece não haver nenhum ponto firme onde se possa ancorar o renascer da confiança e a certeza da verdade.

    Penso que todos estamos atônitos diante de tudo o que acontece. E com a clara visão que a necessária harmonia do quotidiano não será resolvida por uns poucos. É preciso firmar consciência que o caminho para a normalização da vida nacional passa pelo envolvimento de todos. A tarefa é árdua. Não há dúvida que até o medo do que fazer nos atinge. O recomeçar do país está nas mãos de todos.

    É preciso que nossa crença em Deus e nos valores humanos nos mova a fazer a parte pessoal e social! Assim seja!

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