A descrença na política e na sua redenção

A descrença na política e na sua redenção

POSTADO EM 23 de Junho de 2017

A DESCRENÇA NA POLÍTICAE NA SUA REDENÇÃO.

 Por Monsenhor Giovanni Baresse

Penso que todos estamos preocupados com a triste realidade de nossos dias. Os problemas se avolumam eparece que o horizonte das respostas e soluções não se vislumbra.

No âmbito dopoder Executivo vemos a presidência acuada por denúncias de conluios parabeneficiar grupos, partidos, empresas e pessoas. No Legislativo denúnciassemelhantes e um vai e volta de acertos e desacertos que têm a finalidade depreservar espaços para as eleições de 2018. O Judiciário, máxime os órgãossuperiores (STF e TSE), exposto pelas transmissões da TV, a fazer com que seusmembros tenham a tentação do estrelismo. Isso tudo tem levado muita gente atomar a posição do descaso, da desilusão, da certeza que “tudo vai acabar numa grandepizza de marmelada” (como diria um conhecido comentarista da TV). Ao escreverestas considerações tenho em mente a fundamental certeza de que a Política,entendida como a arte de buscar o Bem Comum, não pode ficar sujeita aodesencanto e à descrença. E, muito menos, no largo espectro dos três poderes,ser vilipendiada e reduzida a algo como o lixo.

Urge o comprometimento dacidadania e, se me permitem, um posicionamento firme daqueles que se declaram cristãos. Ao falar das mazelas que brotam todos os dias na velocidade da mídia,num raciocínio bem simples, a primeira questão que surge é que o que reclamamosno “andar de cima” tem seus fundamentos “cá embaixo”!

Já abordei, em outro momento, as pequenas falcatruas que são operadas no miúdo das ações quotidianas:pedir atestado de saúde sem estar doente. Pede-se para ir passear, ter umafolga, emendar um feriado. Receber troco a mais e não devolver. Caixa e balconista que se danem! Dar um cheque sabendo que não se tem como cobrir. Quem o recebeu que se vire! Apoiar alguém em busca de votocom a intenção de obter algum favor, emprego, etc. Executar alguma função outrabalho à custa de “engraxada”, propina. Creio que os leitores e eu, se quiséssemos fazer exercício quase masoquista, iríamos acrescentar muito mais“ocorrências”.

Permito-me lembrar aqui algumas indicações do Magistério daIgreja no chamado Documento de Aparecida, emanado da V Conferência Geral doEpiscopado Latino-Americano e do Caribe, em 2007. Já com 10 anos e,infelizmente, ainda bastante desconhecido. O documento traz grande número deindicações para o engajamento dos cristãos no leque da vida de cada dia. Este documento está na continuidade de tudo o que se refletiu nos encontrosanteriores, desde a reunião no Rio de Janeiro em 1955, passando por Medellin,Puebla e Santo Domingo. Mas a fonte principal está no Concílio Vaticano II, nodocumento que fala da atuação dos leigos (cristãos que não têm o ministérioordenado).

Este documento fundamenta a participação dos cristãos na própriamissão de Jesus Cristo. Missão que não se limitou e não se limita a olhar parao céu. Mas olha para o céu com os pés no chão. Porque aqui a vida se constrói!Ao abordar os diferentes campos de ação (o documento usa a palavra “apostolado”para lembrar missão derivada do mandato de Cristo) se fala do ambiente socialcomo um lugar de obrigações dos cristãos. Cita-se o ambiente do trabalho, da profissão, do estudo, etc.

Os cristãos realizam a missão da Igreja no mundo pela coerência da vida, pela probidade em qualquer negócio, no cumprimento dosdeveres cívicos. Façam valer o peso de sua opinião para que o poder civil seexerça com justiça, não recusem exercer cargos públicos.

No belíssimo documentoGaudium et Spes (Alegria e Esperança) aponta-se para que todos os cristãostenham consciência de sua vocação especial e própria na comunidade política;por ela são obrigados a dar exemplo de sentido de responsabilidade e dedicaçãopelo bem comum, de maneira a mostrarem também com os fatos como se harmonizam aautoridade e a liberdade, a iniciativa pessoal e a solidariedade do inteirocorpo social, a oportuna unidade com a proveitosa diversidade.

Reconheçam aslegítimas opiniões, divergentes entre si, acerca da organização da ordemtemporal e respeitem os cidadãos e grupos que as defendem honestamente.

Ospartidos políticos devem promover o que julgam ser exigido pelo bem comum, semque jamais seja lícito antepor o próprio interesse ao bem comum.

Creio que valea pena retomar atitude de boa fundamentação para um agir que coloque indicaçõesde como superar a desesperança que se abate sobre todos nós. Todas as formas decorrupção podem ser vencidas se isso for, de verdade, desejo e empenho. Estámais que na hora de mensalinhos, mensalões, lava jato e mala com grana desapareçam!

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