RAIZES DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE.

RAIZES DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE.

POSTADO EM 16 de Fevereiro de 2017

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Por: Mosenhor Giovanni Barrese

Faz mais de cinquenta anos começaram a surgir comunidades cristãs denominadas neopentecostais. Uma das suas características é a pregação insistente de que a prosperidade (riqueza, bem-estar, saúde, etc.) são consequências da fidelidade a Deus. A pobreza, a doença e outros males materializam vidas afastadas do Senhor. Creio que há dois pontos fundamentais na base desta visão religiosa: o capítulo 28 do livro do Deuteronômio (recomendo a leitura), com suas bênçãos e maldições e a não esperança de vida após a morte. Esta levaria a todos ao sheol, lugar dos mortos. Este é, para o Antigo Testamento, o mundo subterrâneo. A morte era pensada como passagem da terra - lugar dos vivos - para esse local. O sheol é a terra do esquecimento, das trevas e do silêncio, das sombras. Lá não existe vida. O sheol fica no mais profundo da terra (Deuteronômio 32,22) para além do abismo subterrâneo (Jó 26,5: 38,16-17). Portanto, não poder ter vida feliz, é o inferno! No Deuteronômio a fidelidade a Deus é marcada pela superioridade de Israel sobre os outros povos, pela fecundidade das colheitas e rebanhos, pelos muitos filhos, etc. Não ter isso é ser maldito! O livro de Jó nos oferece rico material para reflexão sobre o assunto. Ele se caracteriza por um forte questionamento sobre a realidade da retribuição, da prosperidade nesta vida. Jó discute com Deus, com a esposa e com os amigos. Se ele tinha tudo (riqueza, família, saúde) e tinha consciência que seguia os mandamentos de Deus, por que veio a perder tudo? O livro representa um dos questionamentos que foram surgindo no judaísmo quanto à veracidade da afirmação teológica da retribuição ou castigo nesta vida. Porque se constatava (já naquele tempo!) e se constata que a disparidade que existe, em todas as situações, nem sempre beneficia quem é reto e nem sempre castiga quem é desonesto. A mentalidade bíblica fundamentou a forma do protestantismo clássico ver a economia. Há vários estudos que ajudam a compreender a formulação católica (que criticava a usura, os juros, etc. e exaltava a pobreza) e a protestante que defendia a prosperidade material como sinal de benção. Há um texto clássico que ajuda a entender bem essa questão: seu autor é Max Weber. O livro é “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Vale a pena ler esse texto. Ajuda a compreender bem a diferença de ver economia, finanças do ponto de vista protestante e a do ponto de vista católico. A exaltação da ideia da retribuição nesta vida e consequente prosperidade e fim dos problemas consegue ter, ainda hoje, formidável aceitação. Certamente os leitores já devem ter visto pregadores, especialmente pelos meios de comunicação, a exaltar esta dimensão religiosa. E se constata a força dessa pregação. Um líder de uma das igrejas neopentecostais, com apelo à TV, conseguiu em poucos dias, mais de oito milhões de reais para fazer frente às despesas de sua comunidade! Nós católicos sabemos o quanto temos que trabalhar para conseguir, numa grande iniciativa, um por cento disso (e olha lá)! Mas há uma outra coisa que eu queria lembrar. Faz já algum tempo que ouço uma afirmação sobre o porquê da pobreza e dos outros problemas que nos afligem. Para determinado pregador os males são consequências de espíritos malignos que estão em nós. Não há nenhuma visão sobre a política, a economia. Nenhum dado sociológico. A questão é mesmo de vertente religiosa. E os sofrimentos se resolvem nessa área. Com isso ganha força o entendimento que basta assumir fé compromissada com os objetivos que são colocados como desafios para que a solução e o livramento aconteçam. Isto é extremamente grave porque dissocia as pessoas da vida concreta. Tudo gira no campo espiritual. Os dramas que estamos vivendo têm sua solução no campo das bênçãos. Claro que, felizmente, vivemos liberdade de crer ou não. E é importante que seja assim! Mas temos o dever de ter clareza que a nossa história é feita pelas escolhas e consequentes atitudes. A fé deve ser a motivadora para buscar a verdade, a justiça, a honestidade. E isso só acontecerá quando o crer em Deus nos levar a ver em cada ser humano a imagem e semelhança de Deus! Mesmo porque podemos constatar que o excesso de bens para uns poucos e a escassez para a maioria afirmaria que a maior parte de quem diz acreditar em Deus é mentirosa ou profundamente ingênua!


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